Borboletas são uma provinha ambulante de que o mundo não pode ser em vão. Amo-as, e ao seu jeito de nos fazer crer em fadas. A presença da menorzinha que seja nos convence mudamente do paraíso. É uma de minhas teorias: borboletas são pequenas persuasões acerca do infinito, uma amostra grátis de plenitude que se esfrega em nosso nariz. Mas têm curto visto de permanência do lado de cá do mundo. Não nos pertencem, não podem durar. Duram o tempo suficiente para procriar em outras emissárias e garantir a perpetuidade da boa-nova.
Não bastante, as bichinhas vieram ao planeta como metáfora pronta. Quem já não se apropriou da ideia do casulo, da metamorfose, da reinvenção? Tanto alumbramento nos causa que ficamos cegos ao clichê. Repetimos as comparações hipnotizados, rendidos, na mesma alegria fresquinha com que as borboletas se autorrepetem.
Um aspecto da metamorfose, porém, eu (ad)miro com ternura específica. Larvas de borboleta vivem literalmente para comer. Nada lhes interessa no universo senão acumular cabedal para a fase adulta. Quando finalmente rompem o casulo, quando encerram a preparação para a vida definitiva, voltam incapazes dessa mastigação alucinada. Suas mandíbulas se atrofiaram. No lugar ficou uma trombinha, o probóscis, que permitirá ao inseto (não é horrível manchar borboleta com o nome de “inseto”?) uma alimentação levita, o necessário, somente o necessário. Espanto: em algumas espécies, nem mesmo o necessário. A abertura oral se fechou. Até o fim, até retornar à Wonderland de onde veio, a borboleta não fará nada além de reproduzir e reproduzir-se, voejar e acasalar, amar, querer-se amada – sem almoços, sem jantares, sem distrações. A energia virá exclusivamente do que armazenou em sua existência esforçada de lagarta.
Não digo que parássemos o alimento literal nem figurado, que cessássemos os banquetes, muito menos as aprendizagens. Tão bom seria se aprendêssemos, no entanto – se aprendêssemos a paixão devoradora com que a lagarta se constrói e a avidez de amor com que a borboleta se consome. Se entregássemos a juventude ao conhecimento faminto e a adultice, à missão permanente. Se engolíssemos a terra numa loucura de sabedoria, para depois nos devolvermos a ela belos, crédulos, polinizadores, insistentes, incansáveis, prontos. Se fizéssemos uma escola dos primeiros anos e uma aquarela dos seguintes.
Se fôssemos como somos, mas melhores. Se fôssemos como elas, de existirem, são bilhete para recordarmos a forma esquecida de ser. Se fôssemos uns para os outros um jeito de fazer crer em fadas. Provinhas ambulantes de que o mundo não pode ser em vão.
7 comentários:
Não há nada mais belo do que um imenso campo com borboletas a voar e o canto dos passaros... maior tranquilidade.
A natureza é incrível, não me canso de admirá-la, sempre me surpreendo com sua perfeição...
é verdade... vc fez uma reflexão que eu não seria capaz de fazer, vc tem uma sensibilidade cosmológica, um poder de observar coisas simples do mundo e desenvolver os mais belos textos com as mais belas reflexões, cara, vc é incrível ;)
\tô aki retribuindo comentário, mto obrigada, pessoas como vc são a essência para a existência do meu blog.
http://diariodagarotadevariasfaces.blogspot.com/
sigo quem me segue e retribuo comentários
Bom seria, assim como a ideia que me passou o texto, sermos capazes de viver de forma harmônica como fazem as borboletas...
bjo bjo bjo
http://paradoxoali.blogspot.com/
A natureza é perfeita mesmo! concordo com a Maylane! amei o post!
A natureza tem uma beleza inexplicável! rs ADOREI O POST!
TUDO NA NATUREZA É PERFEITO, SÓ O HOMEN AINDA NÃO ACHOU SEU LUGAR NESSE UNIVERSO. NO DIA EM QUE ENCONTRAR TUDO ENTRARÁ EM EQUILIBRIO.
ME SEGEUE:
http://valdeirshow2010.blogspot.com/2011/08/aiperai-que-ta-gravando.html
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