Entre os programas “de relacionamento” que passam às terças no Discovery Home & Health, veio na última safra o curioso Traidores. O título é autoexplicativo: histórias (verídicas) de pessoas em relação estável que se envolveram em casos longos ou súbitos. Normalmente, durante a narração que os envolvidos fazem para o programa, fala também algum psicólogo, terapeuta familiar ou afim que tenha trabalhado com o casal principal. Um desses terapeutas tentava explicar o movimento que leva os potenciais traidores a se desiludirem com sua relação: “A maior parte dos pacientes está preocupada em encontrar a pessoa certa para se casar, no lugar de se preocupar em ser a pessoa certa”.
Preciso e genial. Nosso impulso de terceirização da culpa, que comentei posts atrás, não poderia atuar diferente em termos de relacionamento amoroso. Aliás, relacionamento “amoroso” – porque “amor” que é vampiro, em vez de ser doador de sangue, não pode circular por aí sem as aspas. Passamos a vida suspirando pelo príncipe ou (confessem, meninos) princesa encantada, a solução final, o elemento ou elementa que é “para casar” porque é o arroz que supre todos os aminoácidos de nosso feijão, é a nave do arrebatamento, é o anjo do resgate. Desabamos das esferas, chocados, quando percebemos que o herói teve a audácia de não decidir o restaurante de hoje, ousou continuar tendo amigos (e amigas) após a Grande União, foi petulante o suficiente para entrar em crise depressiva maior que a nossa. Pudera. Não queremos um cônjuge, queremos uma empresa fornecedora. Até hoje não sei como é que não ligamos para um SAC nem amanhecemos numa fila de Procon.
Queremos um partner que seja clone do Hugh Jackman e perito em hidráulica, mas nós mesmas vamos das 6h às 23h de pijama de moletom e não aprendemos a fritar um ovo. Queremos uma senhorita que tenha alma de serafim e talentos de Bruna Surfistinha, mas nós mesmos largamos a academia há 16 anos e engolimos com os olhos cada derrière transeunte. Queremos um interlocutor que seja a sensação da festa, mas nós mesmas nunca ouvimos falar em Godard. Queremos uma cozinheira que desfie o caderno de receitas da mamãe, mas nós mesmos nunca pusemos uma água para ferver. Queremos toleradores de TPM, mas somos intoleradoras de futebol. Queremos trazedoras de cerveja, mas não buscamos absorvente na farmácia. Queremos café na cama e deixamos a toalha na sala. Queremos buquê de rosa e esquecemos o pão do café. Queremos elogio e xingamos. Queremos poema e berramos. Queremos abraço e batemos. Queremos e não fazemos. Queremos e não somos.
E se somos: somos? Somos sem dúvida, sem pestanejar, de fato, de verdade? O que costumamos ser não passa de tentativas internas, intenções engolidas, pensamentos-fantasma. O melhor de nós – por preguiça, temor, arrogância, comodismo, ciúme –, geralmente levamos para o túmulo.
A não ser que exumemos o coração em vida, não nos tornamos o amor que fingimos merecer.
9 comentários:
oii!
Sabe que quando assisti "Traidores" pensei da mesma forma! Queremos e pensamos o impossivel! è preciso ter pé no chãao!
Beijoos
♥
http://pinkglamblog.blogspot.com/
ou melhor procuramos nossas princesas e esquecemos o que realmente importa...inventamos um pessoa para nosso lado ficar...mas nem sabemos se essa pessoa existe,,,temos que abrir os olhos para a realidade...
Gostei do blog, é sutil e realista.
Temos que ser a pessoa certa, se cada um pensar e agir assim, os relacionamentos e tudo que nos acerca não seria em vão.
Retribuindo a sua visita ao blog www.semparanoia.blogspot.com
Beijos.
Olha aí, um bom devaneio que surgiu de uma programa de televisão, o qual agora me deu vontade de assistir...
Bom texto, sinceramente :)
Excelente !!! Em min também deu vontade de assistrir a esse programa e sempre queremos algo que no fundo no fundo nada tem a ver conosco ... isso acontece na maioria das vezes .
http://fleonandthecity.blogspot.com/
Antes de mais nada, parabéns pelo texto, Fernanda.
Aproveito para adicionar uma coisa à ideia que você transmitiu: temos é que parar de construir fôrmas para tentar encaixar pessoas nelas. Acho que mudar e adaptar-se é extremamente necessário para quem quer estar numa relação à dois que perdure. No entanto, acredito que temos é que conhecer pessoas e apreciarmos e admirarmos aquilo que encontramos. Talvez exista um garoto por aí que se amarre numa garota de moletom que não saiba cozinhar. Pode ser que exista por aí uma garota que esteja admirada de ter um parceiro tímido e não-atraente.
Outra coisa, mas não menos importante, é a definição de "amor" como algo vampiresco. Não consigo concordar com isso. Acho sim que a palavra tem sido usada para definir qualquer coisa doentia por aí. Gosto muito da definição dada por Ingrid Esslinger, e que ilustra o que falei anteriormente:
"Paixão é fome e só floresce na ausência do objeto amado. Mais precisamente, vive da ausência do objeto amado. A pessoa apaixonada não enxerga o outro, vê o que projeta nele. No amor, é possível perceber o outro e "apesar de", ainda amá-lo. Já a paixão não resiste ao tempo nem ao teste de realidade."
Para mim, a "paixão" é que é vampiresca.
Gostei do espaço. Vou visitar mais.
Oiii... fazia um tempinho que não passava por aqui...adoro te visitar... sempre tem posts muito bons, como esse!!!
Faça uma visitinha ao meu blog, se puder... ficarei hiper feliz pela retribuição!!!
http://paponalingua.blogspot.com/
:)
Até a próxima!!!
Nunca assisti, mas parece ser interessante. Traição é um assunto muito polêmico, e cada um tem uma opinião sobre isso. Que horas começa?
Assisto essa programa também! é um tópico meio polêmico né, na minha opnião existem zilhões de motivos pra uma pessoa chegar a trair o companheiro... sou meio radical e penso que aonde há amor não existe a necessidade de tal coisa! sou adepta de sinceridade e enquanto estou com alguém, não sou infiel. Penso que sentir interesse em outras pessoas é um grande sinal de algo está errado na relação ou termina de vez ou tenta melhorar... as vezes o problema está em você mesmo! Trair jamais é a solução.
http://fashioninspirationl.wordpress.com/
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