Ontem foi a final da “Dança dos Famosos” no Domingão do Faustão, para estraçalhar de vez o coração da gente. Nada contra Nelson Freitas, mas eu torcia desbragadamente para Miguel Roncato, o garoto mais fofo das galáxias – que, desde o primeiro ritmo, fez um trabalho excepcional de alegria, técnica e bochechas. Dança nenhuma parecia difícil; nem ele, por mais que se divertisse horrores, estava de brincadeira. Um CDFzinho adorável em cena. Um talento incontestabilíssimo para todos os tipos de bate-coxa. Mas eis que no samba, modalidade última, Miguelzinho não consegue vestir o paletó de malandro na hora certa, o troço fica pendurado por uma das mangas, ele dá um jeito, atira longe o obstáculo e prossegue, bochechas sempre sorridentes. A torcida de casa tem dois ou três enfartes. O júri, claro, tira os devidos pontos – e a apresentação de Nelson, sem grandes falhas, quase gabarita na avaliação da banca. Pronto, já era. Miguelzinho fez tudo certo o tempo todo e, por causa de um adereço infeliz, se estrepou.
Que nada: espectadores votaram em massa e o moleque cravou média nacional de 9,9. Acabou somando 75,8 pontos, contra 75,7 de Nelson Freitas. Venceu por um décimo. UM décimo! um DÉCIMO! Definitivamente, meu coração nunca teve idade para isso.
Se o final não fosse feliz para os partidários de Miguel, poderíamos argumentar: pelejamos duro, suamos sangue, não estávamos de brincadeira – para, na reta de chegada, vir um paletó e estragar a festa. Mas o paletó não estragou a festa, e o foco hoje se reserva o direito de ser feliz. Quase assassinado pelo estresse, porém feliz. O foco é o um-décimo salvador. O fiapinho que fez a boa diferença. O por-um-triz do bem.
Sabe na entrevista de emprego, quando o contratante te olhava como olha para um guarda-chuva desbotado – até que descobriu: seu professor-ídolo na faculdade era o mesmo que o dele? Um décimo.
Sabe no primeiro encontro, quando o pretê levava um papinho qualquer nota e não era o que podemos chamar de atraente – até que você informou que ia ao banheiro e ele pulou do lugar para lhe puxar a cadeira? Um décimo.
Sabe na escola, quando você captou a benevolência do professor porque faltou no dia e, mesmo assim, entregou a pesquisa pontualmente? Sabe no site da Receita Federal, que só não manchou seu CPF porque desengasgou às 23h51 da data-limite para a declaração? Sabe o gerente que insistiu um minuto a mais com o chefe e abaixou os juros? Sabe o caixa que demorou um minuto a menos e tornou possível o ônibus das 8h34? Sabe os dez centavos que apareceram na rua e inteiraram a passagem? Sabe o cafezinho que fidelizou o cliente? Sabe a piscada que você deu na fila? Sabe o empréstimo, o favorzinho, o segundinho, o biscoitinho, o sorriso, o presente, o elogio, o brinde, o cutucão que por um tico-assim não aconteceram, não surgiram, não salvaram a tarde, não valeram a noite?
Décimos providenciais, pontinhas de nariz que nos entregam a vitória no páreo não mais que de repente. Desde que o coração tenha lupa para acompanhar o cultivo desses pequenos milagres. Assim não sendo, qualquer paletó nos derruba.
5 comentários:
a dança movimenta a vida.
famosos? não conheço... =/
Belas palavras... pena que não estou por dentro desse assunto. Não acompanho. :/
http://saiidademergencia.blogspot.com/
adorei,estava torcendo por ele..
beijos e parabéns pelo blog
http://dicasemulher.blogspot.com/
EU ESTAVA TORCCENDO PARA AQUELA ATRIZ QUE FEZ TITI, ADORO ELA TAVA TÃO LINDA
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