Montão de gente não sabe, mas não é hoje: foi ontem o dia de São Cosme e São Damião. Por algum motivo que morrerei sem compreender, existe no Rio a mania ancestral de se distribuírem saquinhos de doces na comemoração dos santos gêmeos (embora o povo insista no 27, e não no 26 de setembro, para essa bacanal de glicose). Ai, lembranças com gostinho de açúcar queimado, pirulito de framboesa, cocada de batata, de abóbora, de coco até. Que alegria deslumbrante chegar em casa e desmanchar o embrulhito de papel para averiguar tesouros! Veio chiclete, não veio jujuba; troca? Veio aquela pipoquinha (horrenda) de isopor em vez de delicado, vamos fazer negócio? Opa! mais uma dessa sem-gracice grudenta da maria-mole, quer? Em pagamento, bananada serve (bem-vindo seja, se tiver caramelo!).
Venha de onde for o costume dos saquinhos – não me consta que os santos fossem sócios de Willy Wonka –, ele dá às crianças brasileiras uma chance de Halloween aclimatado, sem fantasias nem travessuras: gostosuras only. Nunca entendi bem, mas, como qualquer ser humano abaixo de 12, curtia. Curtia tanto que, certa vez, fiz o percurso de volta da escola morrendo por dentro, já que não recebera na rua nenhum embrulhinho (sempre ganhava das tias, mas que gosto tem a presa sem o susto da caça?). No último quarteirão antes de pôr a chave na porta, conquistei meu mimo de São Cosme e a crença na felicidade. Recuperei o dia – e o restinho dos 7.665 imediatamente seguintes.
Atualmente não engulo açúcar e acredito como nunca na distribuição. Acredito em nos rechearmos de intenções coloridas e nos darmos, em porções selecionadas, a quem nos encontrar no trajeto. Acredito em sermos espalhadores de suspiros – os que louvam, não os que lastimam. Acredito em sermos fonte aonde vêm os carentes de doçura, os saudosos de agrado, os necessitados da já inesperada sobremesa. Acredito em sermos sobremesa. Em sermos o saquinho de Cosme e Damião que surpreende na esquina com espanto bom. Em virarmos a melhor coisa do dia, a novidade que compensa, a presença que paga o ato de levantar da cama, a conversa que enfeita o corriqueiro, a surpresinha do Kinderovo, o brinquedo ao pé da árvore, o sorriso ao pé do atendimento, o bonus track, o plus. Acredito em sermos delivery do que, não sendo substância, é essencial, é essência. Acredito em nos entregarmos de bandeja, com generosidade de aniversário, às tantas almas com fome de vida, esta gulodice.
Principalmente àquelas que já entraram no último quarteirão.
4 comentários:
Eu nao comemoro esse dia...m,ais amo doces!!!e Essas jelly beans ai deu ate agua na boca!rs
Poxa eu adorava pegar doce de cosme e Damião quando era criança. Enchia panelas de doce que durava o ano todo. Disputava com meus primos quem pegava mais. Adorava !
É uma data bastante representativa , principalmente no Rio ...
http://andyantunes.blogspot.com/
Eu sempre saia pra pegar com as minhas amiguinhas quando eu era pequena. *-*
Saudade dessa época.. rs
http://estanteseletiva.blogspot.com/
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