quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Twinkle, twinkle, little star

Cisne negro: viram? É soberbo. Um adjetivo meio pomposo, meio esquecido, mas o único aplicável. Soberbo. Verdadeiro tratado sobre o que o humano tem de entrega, de mergulho e (tão imperfeitos somos!) de psicose. Um tapa nas bochechas, um desconcerto no estômago.

Não foi “apenas” isso, porém, que me puxou para o filme. Durante semanas permaneci com o tam tam tam tam taaaam do Lago dos cisnes no ouvido e uma imagem colada nos olhos: os braços de Natalie Portman. Os trejeitos, o cálculo, a delicadeza no imitar um bater de asas, mãos suavemente arqueadas como penas, o diminuir e aumentar de ritmo que era direitinho um pássaro. Volta e meia me pegava lembrando a coreografia e, inconscientemente, tentando reproduzi-la nos ombros, nos punhos. Tão difícil copiar o que se faz parecer simples. E olha que Natalie não é profissional do balé; imagina se sua belezinha de anjo tivesse nascido sobre sapatilhas de ponta. Imagina.

Pois hoje é dia daquelas ninfas pequeninas que nasceram sobre sapatilhas de ponta e ficam dançando em nossa memória, executando voos falsamente simplórios e movimentos impossíveis. Hoje é Dia da Bailarina. Pessoalmente, acho-as um mimo. São miúdas, são mínimas, ameaçam quebrar numa topada e têm uma força do cão. Como borboletas. Comem borboletas (acho eu): só assim, sugando as qualidades de insetos coloridos, é que conseguem suportar a carga sem bater prato de estivador, conseguem levitar sem se liquefazer. Bailarinas são borboletas humanas, um desafio à lógica.

Bailarinas são bonequinhas como Coppélia, são virginais como Julieta, são silvestres como a Bela Adormecida, são desmancháveis como a Fada Açucarada. (Aliás, são o mais perto que humanos chegam de, oops, virar fada. Por distração.) Mas estão mais próximas, as meninas, dos quebra-nozes: matam 87 leões e meio por dia para extrair beleza da carapaça de dor. Para convencer o corpinho de mamífero a ter os dotes de um de libélula. Para esmagar mais de 5 toneladas de sofrimento debaixo do sorriso de 3 gramas. Para persuadir músculos e sacrifícios de que eles não existem.

Bailarinas existem, nós é que não: esmagamos mais de 5 toneladas de sorriso debaixo do sofrimento de 3 gramas. Nós, os bundões. Temos um armário inteiro de lamentos, tempo suficiente para gastar em ais, horas a fio para chorar o nada. Temos violências bruscas, gestos estabanados, reações de touro louco. Temos limite para esforço, temos um moderador de afinco, temos um detonador de preguiça, temos um quase-nada de brio que se contenta com quase nada de efeito, temos uma quantidade irrisória de vergonha na cara, temos uma falta ridícula de disposição.

Só a bailarina que não tem.

10 comentários:

Du Santana disse...

Nossa! que texto mais poético!

Vc deve gostar muito das bailarinas, e do balé. A Nicole P. é lindissima, sempre achei ela gata ^^. Nunca havia pensado no balé dessa forma. só pq algo parece leve e fácil não quer dizer que seja.

Agora tive curiosidade pela primeira vez na vida de assistir um espetáculo de bale´(pelo menos até o fim)

Parabéns pelo texto, e o final me lembrou até as bandas que ouvia ha certo tempo. ^^

Andrew disse...

Daora Parabens
http://www.didisoftwares.com/

paradigmas universal disse...

O fim está proximo em um lugarzito bem perto rs .. bjos

Anônimo disse...

curtiiiiiiii :)

amei a imagemm *-*

Novo post , comentaa e seguee? *-*

http://craftingartbr.blogspot.com/

Gilber Gomes disse...

muito bom!! num assisti o filme ainda, mas deu vontade. vc escreve bem, com ritimo e essencia pessoal.

dá uma olhada no meu

http://metalalpha.blogspot.com/2011/09/historia-da-banda.html

Eliseu Antonio Gomes disse...

Ainda não tive oportunidade de assistir o Cisne Negro, mas os comentários sobre ele que eu tive acesso são bons.

Dona Ana disse...

Uma das coisas que me doem é não ter sido bailarina. Aguardei na fila o meu momento, mas infelizmente quando chegou minha vez, eu já estava velha demais para fazer balé. Eu acho lindo essas belas "borboletas", e gostei muito do seu texto. Parabéns!

Lillo G. disse...

BAILARINAS SÃO UM DELICIOSO APERITIVO PARA NÓS LOBISOMENS. A ÚLTIMA MESMO QUE EU CONHECI, TINHA GOSTO DE ALECRIM E MOLHO MADEIRA, COM PERFUME DE MARACUJÁ. MAS TAMBÉM TEMOS ALGO EM COMUM COM AS MESMAS: LUTAMOS COM AS MESMAS ARMAS. PORÉM BAILARINAS SÃO MAIS DELICADAS E CONSEGUEM VENCER BATALHAS SEM QUE NINGUÉM PERCEBA. É COMO DIZIA A QUELA VELHA FRASE QUE EU NÃO LEMBRO A AUTORA: "NA VIDA COMO NA DANÇA, A GRAÇA DESLIZA SOBRE PÉS MACHUCADOS". ÓTIMA POSTAGEM NANDA. E QUE VENHAM AS BAILARINAS.

TEXTO NOVO NO BLOG. ACESSE, LEIA E COMENTE:
http://thebigdogtales.blogspot.com/2011/09/o-monge-e-o-licantropo-2-parte.html

Carol disse...

Acho tão megas e delicadas as bailarinas. Seu texto ficou ótimo para o dia!
bjs

Anônimo disse...

Balé é maravilhoso, gostaria muito de ter feito quando era criança :s http://apaixonadasporcosmeticos.blogspot.com
@Ap_Cosmeticos
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