Há 80 anos redondinhos, cravados, ele desembarcou pela primeira vez no Brasil. 11 horas da manhã. Lá vinha ele para bulir com a nossa vida. Era ainda jovem, inexperiente, não funcionava nos termos atuais. Era-nos criança, éramos crianças para ele. Aliás, nem havíamos nascido. Um dia viríamos a nos encontrar, nas imediações do Natal, e precisaríamos aprender a viver em juntice. Ao menos por alguns meses. Meses de pesadelo para uns tantos, com sua rotina baratinada pelo hóspede indesejável. Meses de alegria e leveza para outros, felicíssimos com a companhia. Eu? integro o segundo time, dos que não veem a hora de ele fazer sua visita anual e só faltam ir buscá-lo no aeroporto.
Ele, o horário de verão.
Tem gente que fica biologicamente transtornado quando ele vem. O corpo se perde como formiga fora da fila. Passa o expediente feito zumbi; as madrugadas, num zanzar de Fantasma da Ópera (pessoalmente, não sinto a menor diferença – meu relógio interno já dança rumba o ano inteiro). Ouço, também, vários trabalhadores diurnos reclamarem de sair de casa ainda na escuridão. Pois é exatamente do que gosto. Ir para a labuta com aquela sensação de que ainda é ontem tem efeito tranquilizador: você não está atrasada, filhinha, é cedo, é muito cedo. O cronômetro nem começou a girar. O metrô não estará cheio, todos dormem até o cantar do galo. Olha esse cheiro fresquinho, virgenzinho, perfume de sereno e véspera!
A tarde também se alonga: é cedo, é muito cedo, nunca tempo de rumar para casa. Os dias vêm com vidas extras. Estão em promoção: pagamos 12 horas úteis, chegam 15 no pacote. Horário de verão nos faz cirandeiros, varandeiros, baladeiros compulsórios; nos levanta o queixo, nos aponta a orla, nos mostra a brisa, veja, veja, sobrou tanto dia no fim do trabalho! Insensato é não dar um mergulho de terno. Indecente é não subir 3 cm o tailleur. Com ou sem reunião de colegas, há duas ou três hours lá fora dadinhas de lambuja para nos fazer mais happy.
Mas o melhor do horário de verão é que ele anuncia, dã, o verão. Melhor ao quadrado: anuncia o encerramento de outro ciclo, põe no ar uma promessa de descanso. O mesmo cheiro açucarado que tem o dia em começo, tem o ano em fim. Cheiro de quase. Essência de expectativa. Uma insinuação de festa, uma condescendente sugestão de dezembro. Momento de gritar um “terra à vista” de missão cumprida e principiar a ser desavergonhadamente feliz.
Sessenta minutos mais cedo.
3 comentários:
O que dizer? Bem vindo a nossa casa.
Eu fico completamente perdida com este horário... E eu que já não sou fã do verão.... Vixi!
;P
Fico um pouco perdido no começo , mas depois que acaba eu sinto falta .
http://andyantunes.blogspot.com/
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