A ideia não é minha – é de Steve Jobs. E não tem nadinha de mórbida. Não quer dizer que devemos curtir deveras o fato ou momento de morrermos, que devemos cultuar o lado negro da Força ou ser suicidas em potencial. Muitíssimo ao contrário. A lembrança concreta e serena da morte nada mais é que uma celebração da vida: por sermos lindamente finitos, por termos o relógio tic-taqueando na parede dos projetos, por precisarmos contar com a margem detendo nossos transbordamentos, é que se faz urgente amar as possibilidades. Amar o caminho. Povoá-lo. Preenchê-lo. Validá-lo. Viver não é para qualquer um: é para quem se prepara para permanecer mesmo após o adeusinho.
Sejamos francos. Que graça ou motivação teria o ziummmmmmm da Fórmula 1, o suor da maratona, sem linha de chegada? Que estímulo teríamos sem o empurrão da mortalidade? sem o privilégio do tempo como artigo raro, fujão, coroado de diadema? Sendo ridiculamente frágeis, já nos arvoramos todo-poderosos; nos damos ao trabalho de gastar minutos armando fofoca, boato, guerra, bullying, programa de pegadinha. Como se ainda tivéssemos até amanhã. Fosse-nos arrancado o dom de perecer, lascou-se de vez: o fim das estribeiras para toda a humanidade. O que nos impediria – a nós, os donos do tempo – de cair num liberou-geral preguiçoso, condescendente e mau até a barbárie? Aliás, não regrediríamos à barbárie, pelo simples fato de nunca havermos saído dela. Com uma estrada inteira diante dos olhos, não há urgências. Não há prioridades. Não há paixões. Não há criações. Não há pressa, aquela pressa do bom sentido, de nos fazer mexer o traseiro gordo e ir ali viver. Uma sociedade sem mortes não sairia do sofá. Se houvesse sofá.
Em seu memorável discurso de paraninfo, Steve deixou em poucas e boas palavras o espírito da coisa: a noção da morte nos faz prosseguir sem orgulho e sem medo. Se ainda estamos arrogantes, covardes e improdutivos, simplesmente não fomos inaugurados como gente. Continuamos fadas, ninfas, kryptonianos ou deuses do Olimpo (ou qualquer fantasia escolhida por nosso fetichezinho de onipotência). Nossa gentice não saiu do armário. Só sai quando a ficha desaba: vou morrer, e hoje é tão possível como daqui a 87 anos. Está então cortada a faixa; estão expulsos os parasitas que aturamos quando ainda não morreríamos e, portanto, tínhamos tempo de ser e fazer infelizes. Não há melhor faxina que abraçar a finitude. Quem pretende seguir caminho agora, now, anteontem – e já está atrasado para chegar ao planeta mais próximo – não se pode dar ao luxo de arrastar excesso de bagagem.
Steve viajou leve de obstáculo e volumoso de conteúdo, pesado onde não pesa e rico (também) do que não enferruja. Imitemos. Por enquanto e para sempre, qualquer tonelada de ideia e sonho passa reto pela alfândega. A única sobrecarga tarifada é a parte essencial que insistimos em deixar para trás.
6 comentários:
Cara é um texto muito bom, sinceramente que eu nunca tinha pesado por esse ponto de vista e realmente faz todo o sentido. Parabéns.
Gostei bastante. Abração
http://projetosdeumlouco.blogspot.com/
muito linda a postagem!!
amei... nao li todos os seus post, mais esse me chamou bastante atenção, depois passo com mais calma e olho o resto, q tbm deve ser bem interesante.
se puder da uma passadinha no meu
http://blogmichellesouza.blogspot.com/
noossa mt bom
vc q escreveu?
parabéns
http://www.hrdoblush.com/
Sempre pensei a sim. A morte é a coroação e o melhor sempre ée o final.
Juro que eu me arrepiei !!!
Adorei,de verdade...
Parabéns,é de sua autoria ?
Fernanda,
texto perfeito. Limpo. Produtivo e mostrou a que veio: Um ACORDA menina pra lá de bom!
Ontem, li um texto do Jobs que ele fala que: Por sermos finitos, devemos seguir nosso coração, sem nenhum receio.
E te falo agora q isso mudou a minha vida...q essas palavras m caíram como um tapa na cara, por ser tão covarde...
E o seu só veio fortalecer o meu projeto de mudança!
obrigada e parabéns !
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