Dia da república. Da coisa pública – definição que todo mundo aprende na escola. Peninha, céus, que não aprende por extensão o que é a tal da coisa. Pelo menos não a pública. A coisa costuma ser privadíssima; ou então (contrariando por lógica o que se pressupõe como “pública”) é de uma publicidade que curiosamente não nos inclui.
A coisa é privadíssima, nossa e muito nossa, quando seguimos leis particulares: posso dirigir após a balada, porque bebida não me pega; posso comprar maconha de quem bem entender, porque sou donão de meus vícios; posso adquirir o DVD pirateba a 5 reais, porque quem manda cobrar 45 pelo que gera renda aos artistas?; posso sonegar dois ou três impostos, ofertar seis ou sete propinas, aceitar oito ou nove subornos, furar dez ou onze filas com a mesma intocabilidade que exime meus atos, só os meus, de prejudicar quem quer que seja. Temos visão milagrosa e malandra de nossos limites: em próprio benefício, nos damos licença (sempre poética) de torcer e manipular a coisa até que se desconfigure, ou até ter, para nós, exclusiva configuração. A nossa coisa é prioritária. A nossa coisa é maior que a coisa de todos os outros.
Ao mesmo tempo, que todos os outros cuidem da coisa. Eles: governo, servente, faxineira, lixeiro, vizinho, síndico, galera do bar, pessoal da esquina. Sou dono único da coisa, mas não um dos donos. Possuidor privado na exploração, nunca parte da gentalha pública na manutenção. Muros que picho, sinais que avanço, banheiros que emporcalho, latinhas que envio pela janela do ônibus, verbas que envio para o chefe da boca, danem-se: me incluam fora dessa. Jaaaames, dê um jeitinho na sujeira. Fico aqui no carro esperando.
A coisa não é terceirizável. A coisa não é relativa. A coisa é como o filho de adoção, trazido para o risinho de bebê e para a fralda suja, para o prêmio na escola e para a infecção de ouvido, para o abraço na manhã de domingo e para o berreiro na madrugada de terça. A coisa é certidão de casamento assinada para a lua de mel e para a TPM. A coisa não negocia, a coisa não aceita inadimplentes; um dia volta para cobrar parcelas. A coisa não recua, não esquece, não parcialmente desaparece, não completamente agrada. A coisa exige respeito. A coisa é ciumenta de cuidados. A coisa é irreversível.
A coisa, democrática, quer passar igual em todas as bocas e mãos. A coisa não desiste de ser, sem exceções, pertencente. Ainda que impertinente. A coisa é também dos outros, quando está carregadinha dos frutos que individualmente cobiçamos. Quando está de fralda suja, também é coisa nossa.
A coisa é privadíssima, nossa e muito nossa, quando seguimos leis particulares: posso dirigir após a balada, porque bebida não me pega; posso comprar maconha de quem bem entender, porque sou donão de meus vícios; posso adquirir o DVD pirateba a 5 reais, porque quem manda cobrar 45 pelo que gera renda aos artistas?; posso sonegar dois ou três impostos, ofertar seis ou sete propinas, aceitar oito ou nove subornos, furar dez ou onze filas com a mesma intocabilidade que exime meus atos, só os meus, de prejudicar quem quer que seja. Temos visão milagrosa e malandra de nossos limites: em próprio benefício, nos damos licença (sempre poética) de torcer e manipular a coisa até que se desconfigure, ou até ter, para nós, exclusiva configuração. A nossa coisa é prioritária. A nossa coisa é maior que a coisa de todos os outros.
Ao mesmo tempo, que todos os outros cuidem da coisa. Eles: governo, servente, faxineira, lixeiro, vizinho, síndico, galera do bar, pessoal da esquina. Sou dono único da coisa, mas não um dos donos. Possuidor privado na exploração, nunca parte da gentalha pública na manutenção. Muros que picho, sinais que avanço, banheiros que emporcalho, latinhas que envio pela janela do ônibus, verbas que envio para o chefe da boca, danem-se: me incluam fora dessa. Jaaaames, dê um jeitinho na sujeira. Fico aqui no carro esperando.
A coisa não é terceirizável. A coisa não é relativa. A coisa é como o filho de adoção, trazido para o risinho de bebê e para a fralda suja, para o prêmio na escola e para a infecção de ouvido, para o abraço na manhã de domingo e para o berreiro na madrugada de terça. A coisa é certidão de casamento assinada para a lua de mel e para a TPM. A coisa não negocia, a coisa não aceita inadimplentes; um dia volta para cobrar parcelas. A coisa não recua, não esquece, não parcialmente desaparece, não completamente agrada. A coisa exige respeito. A coisa é ciumenta de cuidados. A coisa é irreversível.
A coisa, democrática, quer passar igual em todas as bocas e mãos. A coisa não desiste de ser, sem exceções, pertencente. Ainda que impertinente. A coisa é também dos outros, quando está carregadinha dos frutos que individualmente cobiçamos. Quando está de fralda suja, também é coisa nossa.
Um comentário:
REALMENTE VIVEMOS EM PROL DA COISA. QUANDO ELA SE TORNAR ALGO REALMENTE CONSCIENTE NA CABEÇA DA MAIORIA DA POPULAÇÃO, ESSA REALIDADE MUDE.
TEXTO NOVO NO MEU BLOG. ACESSE, LEIA E COMENTE:
http://thebigdogtales.blogspot.com/2011/11/o-crime.html
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