“A poesia de Roseana Murray é feita de delicadezas e transparências, como se ela falasse para mostrar o silêncio. E assim a linguagem alcança a condição de pluma ou porcelana.”
Foi a definição escrita por Ferreira Gullar na contracapa de um livrinho da autora. Resultado é que apaixonei não menos na contracapa que no livrinho. Fiquei desejando, com delicada inveja, alguém para definir-me assim: aquela que fala para mostrar o silêncio.
Falar e escrever é bom, sim, é eficientíssimo no sentido de dar sentidos, de chover informações, de apontar fatos, de indicar acontecências observáveis e pensamentos necessários. Fazer campanhas essenciais – não é fundamental usar todinhos os verbetes do Aurélio para espinafrar cigarro e outras drogas, por exemplo? –, encher o planeta de inteligências palpáveis. Mas é melhor ainda chegar à agudeza do não-dizer que sugere. Atingir o ponto em que palavras lançadas não só, de imediato, frutificam: semeiam. O ponto em que o discurso não é discurso, o discurso é convite, a declaração não pertence mais ao declarante, a declaração não é forma, a declaração é asa. O ponto em que se acaba o peso enérgico de exclamações e mudanças de parágrafo, e principia a sedução das reticências.
Sonho de qualquer escritor, atravessar esse arco-íris verbal. Não ser mais dono exclusivo do texto porque o leitor entrou na equipe, preenchendo de si as lacunas convidativas. Quanto melhor o escritor, mais almofadas nas lacunas. Mais serviço VIP, cafezinho, camarote e massagem para que o interlocutor atenda ao chamado: vem. Se coloque. Me complete. Me faça um texto que sobrevive transplantado na memória, que não se esgota na tela ou no papel, que não falece arrancado do livro. Providencie que haja vida após a leitura. Me jogue nas suas constâncias, me chame de seu favorito, me vire em seu. Que mesmo nesse outro dentro, que mesmo no fora de mim eu signifique. Você me pense, logo eu exista.
Texto que mostra o silêncio é macio como chocolate ou bolo aerado, desmancha no pensamento, toma conta do gosto mesmo quando se desfaz. Não se desfaz: vira saudade. Texto bom se converte em saudade tanto quanto o doce preferido. Não acabamos de mastigar na lembrança – e chama outras. Por causa de suas delícias ou bons incômodos, o paladar apura para só ficar aceitando iguais sabores, ou melhores.
Texto bom não é escrito por, para, com ou sobre. É criado entre.
Foi a definição escrita por Ferreira Gullar na contracapa de um livrinho da autora. Resultado é que apaixonei não menos na contracapa que no livrinho. Fiquei desejando, com delicada inveja, alguém para definir-me assim: aquela que fala para mostrar o silêncio.
Falar e escrever é bom, sim, é eficientíssimo no sentido de dar sentidos, de chover informações, de apontar fatos, de indicar acontecências observáveis e pensamentos necessários. Fazer campanhas essenciais – não é fundamental usar todinhos os verbetes do Aurélio para espinafrar cigarro e outras drogas, por exemplo? –, encher o planeta de inteligências palpáveis. Mas é melhor ainda chegar à agudeza do não-dizer que sugere. Atingir o ponto em que palavras lançadas não só, de imediato, frutificam: semeiam. O ponto em que o discurso não é discurso, o discurso é convite, a declaração não pertence mais ao declarante, a declaração não é forma, a declaração é asa. O ponto em que se acaba o peso enérgico de exclamações e mudanças de parágrafo, e principia a sedução das reticências.
Sonho de qualquer escritor, atravessar esse arco-íris verbal. Não ser mais dono exclusivo do texto porque o leitor entrou na equipe, preenchendo de si as lacunas convidativas. Quanto melhor o escritor, mais almofadas nas lacunas. Mais serviço VIP, cafezinho, camarote e massagem para que o interlocutor atenda ao chamado: vem. Se coloque. Me complete. Me faça um texto que sobrevive transplantado na memória, que não se esgota na tela ou no papel, que não falece arrancado do livro. Providencie que haja vida após a leitura. Me jogue nas suas constâncias, me chame de seu favorito, me vire em seu. Que mesmo nesse outro dentro, que mesmo no fora de mim eu signifique. Você me pense, logo eu exista.
Texto que mostra o silêncio é macio como chocolate ou bolo aerado, desmancha no pensamento, toma conta do gosto mesmo quando se desfaz. Não se desfaz: vira saudade. Texto bom se converte em saudade tanto quanto o doce preferido. Não acabamos de mastigar na lembrança – e chama outras. Por causa de suas delícias ou bons incômodos, o paladar apura para só ficar aceitando iguais sabores, ou melhores.
Texto bom não é escrito por, para, com ou sobre. É criado entre.
4 comentários:
AMO! Seus textos são um deleite! Parabéns!
MUITO BOM O TEXTO PARABÉNS
http://provasetrapacas.blogspot.com
É incrível como eu aprendo sempre com seus textos, pela elegância de suas palavras, pela sutileza de seus sentimentos. Esse para mim é um dos melhores que li aqui. E é como vc mesmo disse "Texto bom se converte em saudade tanto quanto o doce preferido".
abraço,
www.todososouvidos.blogspot.com
Muito bom ! Expressar oque sentimos nos deixa mais leve.
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