“Você é uma criança, Gilda” – diz, no filme homônimo, o personagem de George Macready para a de Rita Hayworth. – “Uma criança linda e gulosa. E eu me divirto alimentando você de coisas belas, porque você as devora com tremendo apetite.”
Gosto da citação porque perfeitamente a entendo. Minha diversão é também doar aos amados (e mesmo nem tão amados) o punhado possível de coisas belas no dia, a cota que estiver ao alcance. Ontem mesmo: a lua cheia. Quis pendurar os olhos da moça recém-conhecida na lua cheia, sabendo ou não se era gafe suspirar tão ostensivamente diante do luão balofo. Vai que a moça é alérgica a luares e eu lhe servindo aquela visão goela abaixo, incomodada com o desperdício de lua.
Gulodices, as coisas belas do estômago: outro problema. Eu mesma não mergulho em gulodices, mas não me conformo em flagrar um pãozito doce, uma bomba de chocolate obsceno, um muffin, uma focaccia, uma tartelete de morango, um croissant de presunto, sem imediatamente adentrar a padaria e trazê-los para o marido. Um ato temerário contra taxas de colesterol, sei; como resistir, porém, ao mimo delicioso de oferecer bons sabores? Felizmente não tenho crianças para deseducar.
Embora isso seja, metaforicamente, o essencial: ter crianças. Crianças gulosas de devorar, com tremendo apetite, as ofertas de coisa linda que povoam o mundo. Nada mais frustrante do que indicar a música preferida, o filme que é uma pérola, o livro que é de veludo, o poema que escorre caramelo; nada mais aflitivo do que preparar um bolinho, puxar pra exposição do Monet, vir com um DVD de presente, apontar deslumbrado a paisagem, sugerir o vestido perfeito – e achar do outro lado muxoxices da mais escandalosa indiferença, da maior inapetência para o que há de suculento. Para os intermediários compulsivos das coisas belas, anima ser correspondido com a fome que têm os pequenos procuradores de ovos de Páscoa, ou esperadores de Papai Noel. A fome descompensada das promessas.
Alegria dos que são bandeja é ter mão que mal possa esperá-los sair da cozinha.
Gosto da citação porque perfeitamente a entendo. Minha diversão é também doar aos amados (e mesmo nem tão amados) o punhado possível de coisas belas no dia, a cota que estiver ao alcance. Ontem mesmo: a lua cheia. Quis pendurar os olhos da moça recém-conhecida na lua cheia, sabendo ou não se era gafe suspirar tão ostensivamente diante do luão balofo. Vai que a moça é alérgica a luares e eu lhe servindo aquela visão goela abaixo, incomodada com o desperdício de lua.
Gulodices, as coisas belas do estômago: outro problema. Eu mesma não mergulho em gulodices, mas não me conformo em flagrar um pãozito doce, uma bomba de chocolate obsceno, um muffin, uma focaccia, uma tartelete de morango, um croissant de presunto, sem imediatamente adentrar a padaria e trazê-los para o marido. Um ato temerário contra taxas de colesterol, sei; como resistir, porém, ao mimo delicioso de oferecer bons sabores? Felizmente não tenho crianças para deseducar.
Embora isso seja, metaforicamente, o essencial: ter crianças. Crianças gulosas de devorar, com tremendo apetite, as ofertas de coisa linda que povoam o mundo. Nada mais frustrante do que indicar a música preferida, o filme que é uma pérola, o livro que é de veludo, o poema que escorre caramelo; nada mais aflitivo do que preparar um bolinho, puxar pra exposição do Monet, vir com um DVD de presente, apontar deslumbrado a paisagem, sugerir o vestido perfeito – e achar do outro lado muxoxices da mais escandalosa indiferença, da maior inapetência para o que há de suculento. Para os intermediários compulsivos das coisas belas, anima ser correspondido com a fome que têm os pequenos procuradores de ovos de Páscoa, ou esperadores de Papai Noel. A fome descompensada das promessas.
Alegria dos que são bandeja é ter mão que mal possa esperá-los sair da cozinha.
Um comentário:
Sempre é bom ter apetite em viver...
:)
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