Viagem de metrô que estava uma filial de Armageddon. Dez a doze indivíduos postados no meio do vagão a encher a tarde de infernos: cantoria histérica de arrebentar vidro, gritaria, cachoeira de palavrão, gargalhada em 800 decibéis, tabefe na parede do carro, cantoria, palavrão, mais tabefe na parede do carro. A barbárie. Enfiei cara e alma num livro, dada a impossibilidade de protestar sozinha ou de voar o corpo para fora da jaula. Os demais passageiros, naquela brasileiríssima submissão às mostras de grosseria alheia, acatavam o show com tristeza e rápido constrangimento. Solidão. Em plena selva de primatas.
Fico cismando nos motivos dessa furiosa necessidade de ser gorila. Não digo que seja exclusividade masculina – já presenciei espetáculos femininos da mesma laia, ou piores –, mas me parece que, quando ocorrem, umas tais manifestações estão ligadas a certo deleite dos homens em ser detestados. Detestáveis. Sorte nossa que não acomete a todos; pega os menos evoluídos. Os que, sem ter limitações reais, vestiram precocemente o paletó de vítima. Quanto mais o cidadão se adivinha como um ser sem cultura, sem polimento, sem informação, sem papo, sem meta, sem graça, tanto maior a gana de carbonizar o próprio filme. É cansaço do desejo de melhora. É raiva de ter preguiça das boas chances. É o desespero dos afogados que querem disfarçar sua exaustão debaixo da “escolha” de afundar. É o grito contra si mesmo que vira vingança pública: ou me puxam na marra deste abismo, ou faço birra esfregando nos outros meus excrementos de ignorância. Bem no olho, ó!
Todo vândalo de praça, todo mamute de escola, todo neanderthal de metrô é no fundo guri chorão, com excesso de autopiedade. Excesso de energia acumulada enquanto odiava e lamentava suas incompetências. Normalmente esses taizinhos esbarram em outros mamutes – e pronto: unem as covardias pessoais em covardia gigante, suprema, que usa máscara de coragem dentro da vertigem causada pelo anonimato. Repare. Nossos visigodos do dia a dia andam em bando. Se encobrem. Se empurram. Se servem de álibi. Prestam-se um ao outro de papel higiênico para limpar as responsabilidades de cada fralda suja.
Você é visigodo e quer aparecer? Cresça. Não desfile sua pequenice interna em horário comercial. Cresça reduzindo-se na sandice, na bestagem, na arrogância, na autocomplacência que só servem de matagal alto, de esconderijo para o que importa. Cresça dobrando os joelhos, cresça baixando a cabeça às regras que nos civilizam, cresça curvando o lombo para pegar o lixo que escapou à lata, cresça inclinando as costas para dar mãozinha ao tombado, cresça diminuindo o tom, cresça apeando do palco, cresça descendo do salto. Cresça parando de fugir de ser gente.
Ou vá chorar “mamãe, eu quero” em algum planeta de macacos.
Fico cismando nos motivos dessa furiosa necessidade de ser gorila. Não digo que seja exclusividade masculina – já presenciei espetáculos femininos da mesma laia, ou piores –, mas me parece que, quando ocorrem, umas tais manifestações estão ligadas a certo deleite dos homens em ser detestados. Detestáveis. Sorte nossa que não acomete a todos; pega os menos evoluídos. Os que, sem ter limitações reais, vestiram precocemente o paletó de vítima. Quanto mais o cidadão se adivinha como um ser sem cultura, sem polimento, sem informação, sem papo, sem meta, sem graça, tanto maior a gana de carbonizar o próprio filme. É cansaço do desejo de melhora. É raiva de ter preguiça das boas chances. É o desespero dos afogados que querem disfarçar sua exaustão debaixo da “escolha” de afundar. É o grito contra si mesmo que vira vingança pública: ou me puxam na marra deste abismo, ou faço birra esfregando nos outros meus excrementos de ignorância. Bem no olho, ó!
Todo vândalo de praça, todo mamute de escola, todo neanderthal de metrô é no fundo guri chorão, com excesso de autopiedade. Excesso de energia acumulada enquanto odiava e lamentava suas incompetências. Normalmente esses taizinhos esbarram em outros mamutes – e pronto: unem as covardias pessoais em covardia gigante, suprema, que usa máscara de coragem dentro da vertigem causada pelo anonimato. Repare. Nossos visigodos do dia a dia andam em bando. Se encobrem. Se empurram. Se servem de álibi. Prestam-se um ao outro de papel higiênico para limpar as responsabilidades de cada fralda suja.
Você é visigodo e quer aparecer? Cresça. Não desfile sua pequenice interna em horário comercial. Cresça reduzindo-se na sandice, na bestagem, na arrogância, na autocomplacência que só servem de matagal alto, de esconderijo para o que importa. Cresça dobrando os joelhos, cresça baixando a cabeça às regras que nos civilizam, cresça curvando o lombo para pegar o lixo que escapou à lata, cresça inclinando as costas para dar mãozinha ao tombado, cresça diminuindo o tom, cresça apeando do palco, cresça descendo do salto. Cresça parando de fugir de ser gente.
Ou vá chorar “mamãe, eu quero” em algum planeta de macacos.
5 comentários:
GOSTEI BASTANTE DO SEU BLOG,PARABÉNS!!
Gostei muito do texto, você escreve muito bem! (:
Muito legal o seu texto .
Algumas de suas palavras são raramente usadas hoje , e isso eu admiro muito , gosto muito .
Parabéns.
Abraço.
R.Flicka
http://flickabooks.blogspot.com/
Nossa, amiga, que texto raivoso!
Mas é isso mesmo. É exatamente assim que me sinto quando presencio um espetáculo animalesco desses. E sempre fico me perguntando "Será que só eu estou incomodada?". Se todos os incomodados, geralmente maioria, reclamassem com os que incomodam, via de regra minoria, não acabaria o incômodo??? Mas é assim em tudo nesse nosso país...
Bjssssssss.
bela texto
só vamos crescer se encararmos as dificuldades da vida
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