“As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho”, disse Quintana. Ah, Quintana. Tenho uma barbaridade de carinho pelo poeta, e não pouco também pelas reticências. Tão úteis, as danadas. São como que um princípio de trilho infinito onde derramamos, escritor e leitor, todas as malícias e sandices.
Creio gostar dos três pontinhos pelo motivo que gosto dos dois-pontos: o ar de suspenso. A brincadeira com a expectativa e a respiração. Mas os dois-pontos são indiscretos, anunciam de trombeta que aí vem coisa revelada – enquanto as reticências posam de donzelas românticas, tímidas e trabalhadas no mistério. Foram, por sinal, consagradíssimas por autores românticos, e há de ser essa a razão mais óbvia do meu apreço. Amo aqueles meninos entrecortados, interrompidos, bufantes, ofegantes de excesso de vida, que arrebentava cedo de tanto ser gasta. As reticências eram a única possibilidade de expressão num século XIX sempre chocado consigo mesmo.
Reticências são as Três Marias do texto, as exclusivamente capazes de guiar nosso espanto, de botar calor numa surpresa fria e alma em exclamação apenas histérica. Reticências transformam a indignação de um “mas eu te amo!” na súplica de um “mas eu te amo!...”, e por pouco não vemos a Dama das Camélias aos pés de Armand. Reticências pausam a loucura urbana do “acordei, tomei café, me vesti, peguei o ônibus” numa quase cena campestre: “acordei... tomei café... me vesti... peguei o ônibus...”. Só não se pode abusar das cujas, sob pena de parecer tuberculose ou novela mexicana. Mas que sejam infinitas enquanto suspiram.
Da próxima vez que tropeçar em três pedrinhas na folha, mergulhe-se. Não são pedras de meio de caminho. É o autor postadão no princípio da lacuna de si mesmo, sorrindo marotices e (convite!) estendendo a mão.
Creio gostar dos três pontinhos pelo motivo que gosto dos dois-pontos: o ar de suspenso. A brincadeira com a expectativa e a respiração. Mas os dois-pontos são indiscretos, anunciam de trombeta que aí vem coisa revelada – enquanto as reticências posam de donzelas românticas, tímidas e trabalhadas no mistério. Foram, por sinal, consagradíssimas por autores românticos, e há de ser essa a razão mais óbvia do meu apreço. Amo aqueles meninos entrecortados, interrompidos, bufantes, ofegantes de excesso de vida, que arrebentava cedo de tanto ser gasta. As reticências eram a única possibilidade de expressão num século XIX sempre chocado consigo mesmo.
Reticências são as Três Marias do texto, as exclusivamente capazes de guiar nosso espanto, de botar calor numa surpresa fria e alma em exclamação apenas histérica. Reticências transformam a indignação de um “mas eu te amo!” na súplica de um “mas eu te amo!...”, e por pouco não vemos a Dama das Camélias aos pés de Armand. Reticências pausam a loucura urbana do “acordei, tomei café, me vesti, peguei o ônibus” numa quase cena campestre: “acordei... tomei café... me vesti... peguei o ônibus...”. Só não se pode abusar das cujas, sob pena de parecer tuberculose ou novela mexicana. Mas que sejam infinitas enquanto suspiram.
Da próxima vez que tropeçar em três pedrinhas na folha, mergulhe-se. Não são pedras de meio de caminho. É o autor postadão no princípio da lacuna de si mesmo, sorrindo marotices e (convite!) estendendo a mão.
3 comentários:
Excelente texto...
Sempre uso as três Marias...
Venha nos visitar!
Muito bom ;)
Eu também uso muito ...
http://andyantunes.blogspot.com/
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