O dia-mor de nossa reafirmação política foi ontem; mas, como é o tipo da luta que não dorme e não faz piquenique, além das falas singelamente propostas para serem adicionadas aos parabéns de praxe, deixo aqui minhas também singelas sugestões de perguntas que amaríamos ver direcionadas a celebridades masculinas, nas próximas entrevistas:
* Como o senhor consegue conciliar a agenda de CEO com a paternidade?
* Você usou roupa íntima debaixo do collant de herói?
* A sua esposa o ajuda com as tarefas domésticas?
* Com quem as crianças ficam quando o senhor viaja a trabalho?
* Quem cuida das crianças quando estão doentes?
* Você acha que a beleza atrapalhou no sentido de as pessoas o levarem a sério em sua profissão?
* Sua mulher não se incomoda de você cortar o cabelo tão curto?
* Sua mulher lida bem com o fato de você ganhar mais do que ela?
* Sua mulher lida bem com o fato de você trabalhar num ambiente predominantemente feminino?
* Sua mulher lida bem com o fato de você não querer ter filhos?
* Sua mulher lida bem com o fato de você costumar se vestir de uma maneira tão ousada?
* Sua mulher lida bem com o fato de você quase nunca estar em casa?
* Acredita que seus filhos sejam afetados, na vida escolar, pela imagem de extrema sensualidade ligada ao pai deles?
* Você se envergonha daquelas fotos? Seus filhos já as viram?
* O senhor se considera um homem prendado?
* Como foi o processo de assumir publicamente os fios brancos?
* Qual o seu peso atual?
* Que marcas de cosméticos você prefere?
* Pretende usar o terno de qual estilista no tapete vermelho?
* Quantos sapatos o senhor tem no closet atualmente?
* Acha que sua fama de ser um homem muito assertivo e de personalidade forte pode tê-lo prejudicado na carreira?
Ué, parece tudo bem loucamente inconveniente? Touché: é tudo absurdo, invasivo, afrontoso, inconveniente mesmo – e ainda assim nadinha diferente do que as manas escutam há décadas, diante de câmeras e microfones que se colam a seus narizes com um sorrisito de Inquisição espanhola. Fique registrado aqui, portanto, o meu peteleco moral na orelha dos perguntadores internacionais, que submetem mulheres a eternas entrevistas de emprego (para o cargo inalcançável da perfeição-absoluta-segundo-vozes-da-minha-cabeça) em plena luz dos holofotes, constrangendo e escarafunchando vidas sob a lógica ingerente do machismo e da arrogância.
Não, guys, mulheres e suas rotinas não são propriedade coletiva nem território júri-populado: não respondem senão a si e aos (muito) seus em primeira, em segunda e em terceira instância.
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