Outro dia (mais conhecido como
ontem, se muito não me engano) foi o Dia do Inventor no Brasil. Não o celebrei
por aqui, e vim agora redimir-me à base de todos os devidos buquês e bombons.
Acontece que essa rapaziada inventora ergue boa parte de nossas
bem-aventuranças terrenas – e nem vos digo as maiores, tão básicas que já as
sentimos pedaço do corpo: ler textos impressos, viajar no subsolo ou nas
estratosferas, trocar três dedos de prosa por celular ou e-mail. Falo das
felicidades anãs, inesperadas e lindas porque houve um ser humano, neste
mundão sem porteira, capaz de ter a gentileza de sarar sofrimentos mirins.
Minha mais recente
maior-pequena-descoberta-de-todos-os-tempos foi o spray tirador de limo.
Creiam: supermercadeando por mero hábito, o pensamento não se lembrava de
conceber que houvesse um produto para além do arco-íris. Meio por falta de vibe, meio por temor de que uns tais
líquidos corrosivos estuprassem a cor dos azulejos, nunca pus as fórmulas
mágicas no carrinho. Um dia pus. Deu-me o clique final contra aquelas maldições
escuras, aqueles mofos repulsivos que tomavam os rejuntes do banheiro,
sarcásticos e invencíveis mesmo se um Anderson Silva os torturasse de sapólio e
bucha meses a fio. Pois arrisquei, ataquei de tira-limo e em dez minutos vi o
nirvana. Não é que a bolorada toda dissolveu-se num olhar boquiaberto?
Assombrei-me em definitivo com a facilidade de ser feliz pela mão do engenho
alheio. A gente é, em cada bocadinho, semente voada de outras terras .
E tantas pequenas maravilhas.
Caneta de quatro cores! quem devo beijar em honra da caneta de quatro cores,
que tornou o ato de lançar notas bimestrais – vermelha, azul, vermelha,
vermelha, azul – ginástica facinha de um só polegar? Puxador de fecho eclair!
quem o gênio que amorosamente ampliou e decorou os puxadores de fecho eclair,
fazendo-os um primor de acessíveis à primeira abordagem? Clipes! céus, os
clipes! miúdas máquinas do mundo, design prontíssimo a brincar de base ou de
anel, de botão ou pregador, de suporte de folhinha ou elo de pulseira, de
juntador de bloco ou (s*** happens) puxador de fecho eclair. E os abridores de
torcer tampa difícil! E a almofadinha de acolchoar maçaneta rebelde! E os
fiapos vermelhitos de rasgar embalagem ranzinza! E os suportes portáteis de
papel-toalha! E as pastas coloridamente elásticas! E o braço erguível de
cadeira no cinema! E os pedais de lixeirinha! E a espiral do calendário! E as
divisórias de bolsa! Corretivo! Quentinha! Pen drive! Cabide!
O luxo, o supremão do luxo: deixar os filhotes de outras sabedorias lhe frustrarem a onipotência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário