Um cachorrinho late na vizinhança, absolutamente ridículo – tão mais ridículo quanto mais ameaçador e ranzinza é o latir, que não pode cumprir as próprias expectativas de esbravejo por motivos de gasguita, frágil e minúsculo. Uma coisa, porém, o pobre catioríneo com fumos de valentão atingiu, embora a meta tenha sido involuntária: evocar-me outros seres e elementos ridículos (além das cartas de amor, que, como J. Pinto Fernandes, não entram na história); chamar à lembrança aquelas burlesquices da rotina, às vezes risíveis porque ingênuas, às vezes desprezíveis porque más:
Gesto de arminha com as mãos.
Crochê em vaso sanitário.
Transparência em vaso sanitário (guilhotina, gente. Caso de gui-lho-ti-na.)
Mesóclises que se levam a sério em pleno ano da graça de 2021.
Vídeos, pessoas, textos, discursos ufanistas.
Bolsonaristas.
Puxa-sacos: tanto gentes peguentas (eca) quanto aqueles recipientes de tecido, bichinho e babadinho nos quais se mete a coleção de embalagens plásticas que toooodos temos, não negue.
Apelidos de neopombinhos que não temem extravasar sua paixão insuportável em público.
Aliás: o andar dos pombos literais.
Discussões encarniçadas sobre terraplanice.
Mullets.
Ombreiras.
Ciúmes.
Cenas pastelão.
Homens palestrinha – especialmente quando palestrinham para mulheres especialistas no assunto.
Homens competindo por absolutamente qualquer coisa.
Homens dando chilique.
Mensagens com carro de som espalhando a vergonha eterna do destinatário para todo o universo.
Mensagens de Dia das Mães, mesmo sem carro de som; cafonice filial é uma instituição planetária.
Azulejos de patos, flores, frutas, galinhas, vaquinhas.
Pelo menos 93% dos ambientes PODRES de caríssimos que aparecem no Espaços milionários.
Pelo menos 96% das coisas feitas ou compradas por milionários.
Milionários.
Bilionários. Céus, minha gente.
Tudo que late mais do que é, age acima do que pode e chega a se fingir senhor do que deveras mente.
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