Arremata-se um poema de Laís Araruna de Aquino dizendo que "meu trabalho consiste em redigir petições/ como todos os demais/ entanto meu ofício é deixar o coração aberto/ permanentemente/ o espanto não escolhe a hora de entrar".
Pois.
Meu trabalho consiste em semear leituras; entanto meu ofício é digitar pores do sol na tela, me arrebentando de cantar como as cigarras.
Meu trabalho envolve tecer formulários; entanto meu ofício é esquentar sopa de ervilha às três da matina para tomar com George Sand.
Meu trabalho engloba o derramamento de Vanish em roupas laváveis; meu ofício, porém, é um entornar definitivo de sílabas nos côncavos disponíveis.
Meu trabalho inclui engordar diligentemente o Google Classroom; meu ofício – este já se inclina para a busca e apreensão de nomes de flores.
Meu trabalho é o de dissecar advérbios e pronomes; meu ofício mora nas imediações das prateleiras de sebos.
Meu trabalho pede o destrinchamento de entrelinhas; meu ofício, entretanto, solicita fazer tranças de rimas variadas.
Meu trabalho me exige o arranjo de alimento para os dias; meu ofício me obriga (cá está a prova) a ler um contínuo de poemas.
Meu trabalho implica atirar cápsulas de norma culta; meu ofício me atira flechas de madrugada, da parte da lua cheia.
Meu trabalho me faz riscar quadros brancos de ponta a ponta; meu ofício, mui diversamente, me conduz a passeios longos por pitorescagens de alma humana.
Meu trabalho abarca a distribuição de notas; meu ofício, ufa! me larga livre, livre para unicamente por arte exercer julgamento.
Do primeiro ainda me aposento.
Um comentário:
Fê, sempre leio seu blog, mas raramente comento. Continue escrevendo. :)
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