Outro dia um tweet do perfil Horizonte Ampliado (@HorizonteAmp): "Nada dura mais do que um vídeo que alguém está te mostrando e que você não tem o mínimo interesse em assistir". Não discordo – ter de acompanhar esses micromartírios pra não fazer desfeita é realmente um entojo –, mas sustento que, em medidas de tempo psicológicas, não faltam zilhões doutros entojos decididos a durar tanto quanto. A saber:
o século transcorrido entre tirar uma senha nos Correios e os números da SUA categoria de senhas irem sendo convocados (os astros providenciarão para seja o único grupo numérico que estacionou).
a espera pelo – pelO – caixa eletrônico que funciona com plenitude na agência, muitíssimo embora haja outros oito. Entre os oito, três estão em atualização, dois não fazem saque, um não lê a digital nem por um cacete dourado, um planeja mastigar o cartão, um tem a tela tremelicante para proporcionar labirintites; o bendito fruto que resta jaz ocupado há 23 minutos por uma criatura que vem digitando a numeração de 16 boletos, a despeito de tê-los impressos e poder fazer adoravelmente a leitura dos códigos de barras.
o percurso entre a bolinha do "chegada ao centro de distribuição" e a bolinha do "saiu para entrega", em sites de encomendas queridas.
os milênios entre o comprimido tomado e a dor (enfim) desistente.
quaisquer dois segundos e meio de fala/aparição do coiso assombrado.
fila de exposição bombante.
sala de espera de médico que SEMPRE chega uma hora e trinta e sete minutos depois da primeira consulta agendada.
o filme Lincoln (anos meus de vida se escoaram naquele poço artesiano de tédio).
comerciais, quando a reportagem aguardada mora sóóó no próximo bloco.
tagarelagens, quando se está desejosamente abraçado num livro.
mandatos de facínoras, perversos, genocidas, psicopatas.
tudo que há de certo e de incerto, nas medidas inexatas.
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