Há o azul das borboletas de Casimiro, perseguidas "à roda das cachoeiras" por passinhos que corriam pela campina.
Há o azul impositivo dos pavões, rico, cheio; azul a que se diz "Majestade", a que quase não se olha nos olhos de tão completo.
Há o azul – os azuis – quase acinzentado dos jeans, com sua vocação magistral para combinar com o que quer que seja, mesmo a estampa mais medonha.
E o azul semidesistente das hortênsias.
E o azul líquido, fresco, por um triz não engolível das águas-marinhas.
E o azul metálico e pontudo dos cristais de clinoclase.
E o azul avioletado, esplendorosamente raro e absurdo das tanzanitas.
Existe um azul da Noite estrelada de Van Gogh, costurado de branco; um azul juvenil de Picasso; um azul aturquesado e florido abraçando a ponte de Monet; um azul pontilhadinho de roxo em Paul Signac; um azul de Vênus surgida no mar em Ticiano; um azul acompanhado de bodes voadores em Chagall; um azul vestido por menina lourinha em Renoir.
Existe um azul vivo porém suspiroso nos jacintos, que se evola em perfume. Existe um azul aguçado e oferecido nas campânulas. Existe um azul pendente em cachos nas muscaris. E um temperamental, amigo só de neve, nas papoulas do Himalaia. E um inocente, nos miosótis. E um pujante, nos delfínios.
Há um azul específico para cada um dos mares: o grego, o tailandês, o noronho. Há também azuis diferentíssimos espalhados pelo dia – um tão leve que amanhece, um azul a pino das nove horas, outro envidraçado de sol a meio caminho, outro (de todos o mais bonito) denso e poderoso da pré-noite, outro da noite mesma, veludamente apropriado para exibição de estrelas e luas.
Há o azul dos lírios (raros) e o das araras; o do reflexo de céu na neve e o do reflexo de céu nos olhos; o dos M&Ms e o dos delicados; o dos quartzos e o das safiras; o das turmalinas e o dos euclásios; o dos azulejos e o das bolas de gude. Há o azul Facebook e o azul Tiffany. Há o azul dos blueberries e o dos saís-andorinhas. Há o dos tangarás e o dos sanhaçus.
O mundo são mundos azuis.
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