Brasil é jogo que rola sem se ver,
é sangria que jorra, e não se sente;
é um adiamento permanente,
é mó que nos lamina sem moer.
É um requerer mais que receber;
é andar encantado e descontente;
é nunca recobrar-se de doente;
é um cuidar que morre ao se viver.
É querer estar nisso sem vontade;
é tratar de quem sofre – o sofredor;
é ver quem nos desmata abrir a grade.
Pois como causar pode um tal horror
nos corações brazucas amizade,
se é tão contrário a nós este senhor?
Cem anos de sigilo – ora, espia!
E sempre sem mais essa nem aquela;
porque não serve a nós, mas quem na cela
estar, por prêmio justo, deveria.
Os dias, na esperança de um só dia,
passamos, já sonhando com a estrela
que há de nos livrar dessa panela
de carcarás que em nós a garra afia.
Vendo o triste do povo os seus enganos
brecarem toda ação consumidora,
roubarem-lhe a sustança merecida,
começa de acordar nestes dois anos;
e já se libertara, se não fora
a lira tão de perto assim tangida.
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