Estou para hipóteses, e por isso topei a pergunta divertida (porque não deixa de ser uma pergunta divertida) da Colagem de Roberto Aizenberg, surrealista argentino que teria completado ontem seus 99 aninhos. Eis algumas respostas (o)corridas e indivertidas para a pergunta não feita na obra representada acima:
Uma mulher é classicamente composta de muitos côncavos e convexos.
Uma mulher é metaforicamente composta de muitos côncavos e convexos.
TODO MUNDO é metaforicamente composto de muitos côncavos e convexos.
Numa pessoa "de sociedade", existe uma inumeridade de camadas separando a região por onde anda a cabeça e a solidez onde se fincam os pés.
Não temos base que chegue para o tanto de conteúdo de que nos embalofamos.
Por não contarmos com quase nada de cabeça – sob e sobre os adereços – é que nos entupimos com esse tanto de entretantos.
Um exterior perfeitamente conveniente e sério pode muito bem ser estofado duma série de gargalhadas (vejam bem se, em cada fileira aí da moça, as duas formas das pontas não parecem olhinhos apertados de riso e a do meio, uma boquinha aberta em piada).
Em compensação, apenas um terço dentro de nós efetivamente sorri, enquanto os outros dois permanecem de olhos fechados.
(E nosso eixo, afinal, acaba sendo a única e trabalhadeira boca com que nascemos, em vez da vista que nos foi dada em dobro.)
Temos mais braços de englobar do que pernas de levá-lo – e levar-nos – adiante.
Somos (mentirosamente) não muito mais que produtos arrumadinhos em prateleiras, nada dispostos a desacomodar quaisquer de nossas acomodâncias, sob risco de desabamento.
Pouco adianta nos compormos de côncavos e convexos mil se nossa estrutura geral é pesadota, retanguluda, sem frescores e sem malemolências.
Pouco adianta a quantidade bojuda do que nos compõe se a qualidade varia nada, nada, nada de cor e de forma.
Apesar dos muitos conteúdos que engolimos, também não nos faltam vácuos.
Nem solidão – no fino apoio que nosso orgulho topa para nos manter levantados do chão.
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