Li no Face, algumas vezes,
uma bem-humorada observância: “desejo que todos sejam felizes – gente feliz não
enche o saco”. Fatão. Gente feliz mesmo (não daquela felicidade fajutamente de
plástico, sempre ligada ao insucesso de outrem e, portanto, desvinculada da
serenice de consciência que acompanha a Felicidade com efezão) se diverte e
garante dentro da própria vida, sem por distração ou raiva amofinar a dos
outros. Gente feli-li-liz – não apenas contente – fica até sem graça de causar
qualquer perturbação, como se levasse vergonha de tanta felicidade estar
desligada do mínimo de merecimento. Gente contentinha mora num estado de
alegria vago e transitório, por isso mesmo invejoso de outras alegrias que
supõe maiores ou mais firmes; gente feliz não ousa nem concebe invejas, bem ao
contrário: tem nojo de manchar-se de ingratidão e, antes, convidaria todos os
infelizes a lanchar no seu nirvana. Gente feliz automaticamente se sacraliza.
Gente feliz passou da
temporada de provas; está com o coração assentado no sossego de sua própria
casinha branca, dívidas morais quitadas, sem inadimplência emocional. Não há
mal-resolvices de juventude ou infância entulhando e desperfumando o espaço.
Não há velhas ansiedades corrompendo as relações de adrenalina inútil. Felicidade
é a faxina grande de cada semestre, aquela de quando se cria bravura para
encarar os cantinhos que viram tabus de bagunça e mofo. Felicidade tira a
poeira das esquinas, evita o trauma alérgico das raivas não espanadas; é limpa,
ensolarada, frontal, sem esqueletos, sem caixa-preta. Gente feliz já matou suas
bruxas más e se tornou o castelo do final do desenho, novamente claro e
florido, isento dos espinheiros que tornavam proibitiva a aproximação. Gente
feliz não tem – ou não tem mais – os pensamentos de desperdão que eram sua sala
intocável, medonha. Em consequência, não guarda mais necessidade de permanente defesa
pela fofoca, cismância, impertinência desviadoras de foco. Gente que carrega
felicidade legítima está indiferente ao ataque. Blindada. Excessivamente
acostumada à continuidade de seu paraíso para se dar ao trabalho de procurar
destruição no olho do outro.
Gente já com derramado vício de venturança não perde mania de a colecionar.
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