Moça passando na rua, celular em punho. Flagro uma
frase de alto e claro som: “Me poupe dos detalhes, Ana Cláudia”. Como
autossuposta escritora, tenho uma pena aguda de ser poupada dos detalhes; quero
detalhes, preciso de detalhes, muitos e suculentos. Tenho a curiosidade culpada
dos precipícios, aquela coisa devoradora que se interessa mesmo pelo que não
lhe interessa – aquela dúvida faminta que interrompe a zapeada pelos canais ao
pescar um restinho de animal-planetice chatérrima, empenhada num ângulo inédito
do ataque das tarântulas. Espírito de acumuladora: deixa eu assistir porque
posso precisar, posso precisar, posso precisar.
Informações excessivas aborrecem
fatalmente a espécie, mas informações há que não aborrecem nunca, pelo menos em
se tratando de minzinha: as de gente. De gente por dentro. Quem cá viveu, o que
fez, o que quis, em especial a quem e como amou, como peitou, como decidiu.
Como se descobriu. Sou daquelas que escarafuncham os bastidores das gentes e,
ao mesmo tempo, são sepultadas com os recém-descobertos segredos – a não ser
que não sejam segredos. Gosto de saber mas não revelo, gosto de saber por
aprender e não por divulgar. Preciso simplesmente conhecer o que é possível
neste mundo; medir, nas comparações, o limite do frequente e do ocasional.
Averiguar por estudo interno. Por arquivo. Não menos por defesa.
Existem desses detalhes
construtores, que nos amadurecem como profilers e como habitantes desta nave
louca. Há também, entretanto, os que ninguém merece. Os apenas exibidos como
troféu de caça, os calculadamente fabricados para a posteridade do Paparazzo. Me
poupe, por exemplo, das sordidezinhas que tal ou qual subcelebridade realizava
na cama (mais especificamente, fora dela). Me poupe de toda a trama de perfídia
e boicote que os EUA vêm promovendo contra a sua – exatamente a sua – família
há 57 gerações. Me poupe de cada minúcia hospitalar dos seus oito filhos,
englobando inflamações pusentas, orifícios verdolengos e perebas
inqualificáveis. Me poupe das suas minúcias hospitalares, sobretudo as
que tiverem relação incidental com o baixo-ventre. Me poupe de seus comentários
tão-somente xerocados. Me poupe de suas teorias educacionais tão unicamente
descabeçadas. Me poupe de suas fofocas. Me poupe de suas implicâncias. Me poupe
de seus clichês.
Não me poupe dos detalhes que pavimentam estrada para além do era uma vez.
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