Soube dum sujeito (americano, acho) que rompeu com a
namorada, e um tempinho depois, ao chegar em casa, deparou-se com lindo
espetáculo de histeria pós-fora. A indivídua se vingou onde doía: pegou dum
martelo e bam! na coleção inteira de jogos para computador do ex, com requintes
de arranhabilidade. Então o moço foi se atirar do Grand Canyon? té parece.
Reagiu como qualquer ser humano minimamente razoável reage nestas belas eras –
fotografando o estrago e compartilhando na internet, para dividir o pesar de
sua desgraça. Deu certo. Teve gente (compungida e irmanada no vício dos
joguitos) que deu de fazer doações para o novo enxoval eletrônico do pobre.
Abençoada solidariedade a sempre cobrir do básico os desafortunados.
Olha só. Um chute emocional arde mesmo, sem possível consolo
que nos assopre, e ninguém está livre de um ou outro ataque de perereca ao ser
sumariamente dispensado pelo parceiro. Ataque, que eu digo, assim: coisa digna,
pouca; uma choradinha elegante, uma ou duas perguntas de satisfação, as só
indispensáveis – e só se absolutamente indispensáveis. Mais do que isso deve
ser engolido com batata e farofa para ser libertado, em plena ira de
ressentimento, apenas entre quatro paredes vaziíssimas, sem testemunha qualquer
do momento hulk que pode e há de passar com o mínimo de ameaça às integridades
envolvidas. Findo o luto furioso, todas as reputações ressurgem virgenzinhas,
todos podem se olhar e te olhar isentos de ressaca. Que maravilha infalível o
autocontrole. Que delícia vestir-se diva (ou galã) para o trabalho e saber que
o gostosudo (ou filezuda) da seção vizinha vai te admirar a olheira poética dos
amores abandonados, e não pisar macio diante da besta imprevisível que prometeu
cozinhar o hamster do/a ex à milanesa. Mesmo quando o mundo acabou, pensar na
happy hour de amanhã é preciso.
Como é que realmente, lindamente, divamente se recebe o
término de uma relação? Sem passar recibo. Sem esmagar a coleção de jogos, sem
derramar tinta roxo-indelével no carro, sem despachar o bichinho de estimação
para a Lituânia, sem fazer a caveira no blog, sem chorar pitangas e pitombas no
sofá da sogra. Se dê ao respeito, criatura: demonstrações de malice ou
tresloucura explícita só fazem o chutador de namorada/o abençoar o dia da
separação voltado para Meca. Só fazem dar razão ao malfadado que considerou
mais livre e leve viver sem você – olha que ousadia. Logo você, que acolheu o
the-end com olhos tão abnegados de lady inglesa e ainda teve voz de desejar-lhe
felicidades (somente para ver uma franja de arrependimento no meio da surpresa
dele). Logo você, que se ajoelhou aos pés da cuja não a implorar uma chance
patética, mas a beijar-lhe lancelotemente a mão pelo tempo vivido juntos
(somente pra pilhar um remorsozinho suspirante misturado à decisão dela). Logo
você, que agora anda por aí numa serenidade de saia rodada, passeando mais
linda e mais fresca do que quando presa naquele moinho de ciúmes. Logo você,
que agora assumiu seu desejo “irresponsável” de largar o emprego odiento e
paira nas calçadas com um bom humor de orelha a orelha. Logo você, quem diria!
o mesmo aquele, a mesma aquela que não era ideal, evoluído/a, evoluente o
bastante. Baba, baby.
(Deixar saudade: única vingança dos fortes.)
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