Sou do
time dos congelados (caseiros, bem entendido) e só cozinho quando falta
qualquer alternativa – não por detestar a tarefa, mas simplesmente por não me
dispor a perder tempo com ela. Tem gente que manda bem no fogão e quer vender,
eu não tenho paciência de quituteira e topo comprar: eis o equilíbrio do mundo.
Pelos mesmos motivos de desinteresse, nunca fui fã de programa algum de
culinária. Pra que recolher receitas e dicas, se honestamente não vou meter a
mão na massa – e o pior: se vou ficar aguadinha no sofá, sem acesso aos
acepipes da tela? Eu, hein. Ofélia, Oliver, Olivier, Rodrigo, Palmirinha (e
suas fabulosas bochechas) que me desculpem, mas bandeja de prova é fundamental.
A
exceção se abriu quando o Fábio começou espiando o MasterChef brasileiro, enganchou de ir vendo, ir vendo e finalmente
se viciou. Euzita – que já ouvia o povo comentando e tinha, pela atração, a
mesma nenhuma inclinação que pelas similares – fui chegando do trabalho, estava
ali passando, nós convivendo, coisa e tal, até que cedi o coração
improvavelmente. MasterChef Brasil é
um encanto; mui principalmente pelo molho fofíssimo que deu liga entre os
jurados, salpicado do açúcar afetuoso com que Ana Paula Padrão conduz os
eventos. Que lindamente brasileiro o fato de apenas um dos membros do júri –
chef Henrique Fogaça, o maior metaleiro de pelúcia que você respeita – ter
nascido em nosso chão! Que majestade na presença da chef argentina Paola
Carosella, absoluta em cada conselho, queridona em cada aula, phyna e dyvah até
comendo ostra! Que diversão à parte no sotaque legendado de Érick Jacquin, em
sua gula gaiata, em seu tradicional biquinho francês resmungando a sobra ou a
ausência de tompero!
São
esses quatro amadíssimos e um quinto ingrediente especial: a manifestação
estrepitosa (e às vezes desastrada) de criatividade. Em outros shows
gastronômicos, o normal é haver foco numa só bancada ou duas, num só cozinheiro
profissa ou dois, e muito papo de parça que se encontra esporadicamente, muita
risada, muita mise-en-scéne. Particularmente,
odeio ver papo de parça e mise-en-scéne.
É pacumê ou pacunversá? No MasterChef,
é pacuzinhá em ritmo pauleira, sem blablablá nem mimimi. E são váááárias
bancadas, vááááárias ideias simultâneas, diversos planos bês e zês, inúmeros
truques de desespero, dúzias de malabarismos que acabam dando certo, pencas de
reaproveitamentos que dão errado – mas acendem na gente a lampadazinha de novos
caminhos –, montes de delícias que ao mesmo tempo brotam do talo, da palha, do
resto, da casca, do caroço. Os participantes viram bagaço e flecha, se viram
nos trinta-ou-poucos-mais minutos para entregar e entregam: a gororoba que
sair, mas entregam. E nós descobrimos fascinados que, do improviso e da pressa
humana, da máxima objetividade do talento, explodem pequenos big bangs entre
sabores que nunca se esbarrariam em sã consciência (como me apetece a beleza
improvável!). Descobrimos também que nem tudo rola by the book, porque muito da receita não está em qualquer book;
está na finíssima alquimia do furinho prévio na casca do ovo, do tompero colocado na frigideira e não na
comida, do segundo ínfimo entre o creme e o purê, entre o caldo lisinho e o
embolotado. O segredo está nas manhas, nas tentativas e nas margens – nas anotações
off the record de um Príncipe
Mestiço.
Fica, aliás, a dica amiga: MasterChef
é que nem supermercado; só se deve frequentar de barriguita cheia, menos
vulnerável a chamados e seduções. Caso contrário, mano, prepara – que a sua
dieta vai sentar na graxa.
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