Aconteceu
de novo (abençoada frequência!): história fofa de amor explícito. Trabalhando
num abrigo de pets nos Estados Unidos, Heather Hayes conheceu uma chihuahua velhinha
e doentinha, que ninguém adotava – e que só teria mais um dia de vida, os
veterinários alertaram. Heather deu de ombros: “Pelo menos, ela será amada por
24 horas”. Mergulhou nessa com o marido e constatou, surpresa, que a bichinha
ia vivendo ia vivendo ia vivendo: começou a precisar de um nome para continuar
acessível a todos os afetos. Os Hayes batizaram a nova filha de Jay-Z, e – pequenos
milagres da alegria – estão até hoje, quatro anos depois, acompanhados de sua
vidinha frágil mas teimosa. Jay-Z simplesmente se recusa a morrer: tanto
demorou a ser amada que 24 horas lhe pareceram de uma insuficiência ridícula.
Quer mais, muito mais; mas quer mais justamente porque alguém se abalou a
garantir-lhe o “pelo menos”, a consumação mínima de amor que faz uma criatura
garrar apego na existência.
É
isso que devemos a quem quer que seja: pelo menos o amor mínimo. Se forem
apenas três minutos de compreensão e calor entre o primeiro encontro e o último
suspiro, nem por isso deixa de nascer um interminável de memória que tudo preenche
e ressignifica. De morrer haveremos todos, mas que morramos amados – e amando; que
mesmo um percurso miúdo se faça com ternura de classe executiva; que em
assegurar uma pequena eternidade de conforto não sejamos econômicos. Volta e
meia, só temos a ligeireza dum abraço para jurar uma presença definitiva: que
seja um tão extremo encostar de peito a ponto de cada um, na confusão de ir
embora, levar o coração do outro. Às vezes sobra um minutinho de nada entre ois
de rouxinol e tchaus de cotovia: que se faça a mágica da incondicionalidade em
cada segundo de pele. Aqui e ali, escapa um café clandestino no meio do
expediente: que o colega sinta seu dilema queridamente amparado entre os olhos
unidos e o chamado do chefe. Cá e lá, acontece um fuga de lua de mel feriada: que
os braços virem nuvens recíprocas, que só as vozes mutuamente confinadas sejam
a melhor playlist. Que as noites de jogo com o filho se façam Disneys, que a
visita apertada aos pais se torne Paris, que os cinquenta minutos de aula
pulsem como Harvard, que as horas acompanhadas na sala de espera passem como
brisa. Que seja leve e quente e infinito dentro de cada areiazinha de tempo
duro.
Que sejamos, pelo menos, imortais em nosso posto quando alguém nos
chama.
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