A Bela e a Fera é a coisa mais linda do
universo, e sua obrigatoriedade deveria estar registrada em lei, com lacre
imperial. O único senão é que saí com a questão existencialista de sempre, e
que nunca na história deste planeta alguém foi capaz de curar: se tudão se
passa na França, se todos os personagens são franceses, por que só o
charmosíssimo candelabro Lumière tem sotaque francês?
É a
bobagem das bobagens, mas detonou aquele montão de questionamentos mais ou
menos transcendentais que vão tafulhando nosso poço de vida sem que nos
apercebamos do excesso. Tipo: por que os aluninhos adorados acham impróprio
acumular pontos no primeiro bimestre, com a matéria pequena e fácil, quando
podem ser obrigados a estudar até as tripas no último, com o conteúdo do ano
inteiro (e a urgência de acertar 37 questões em 20) pesando no lombo? Por que o
nome da Casa & Vídeo sugere que o vídeo não faz parte da casa? Por que o
azul é tão intrinsecamente relacionado ao masculino, se a tradição pinta o manto
de Nossa Senhora de azul? (Seguindo na linha religiosa:) Por que os que mais
cuidado têm em dizer-se cristãos – tão menor cuidado apresentam em ser
imitadores de Cristo?
Por que
os livros, ainda que gerados com papel diferente em tempo diferente, e conservados
por décadas em local diferente, envelhecem quase todos com o mesmo cheiro? Por
que, depois de proceder a uma limpa de arrumação em armários e bolsas, sofremos
recaídas mil vezes mais desarrumadas? Por que (foi Lobato quem me implantou
essa perplexidade, ainda na infância) as pessoas brancas se sentem superiores
às negras por uma coisa que NÃO têm – ou têm consideravelmente menos? Que raio
de superioridade é essa de uma pele
mais áspera, menos pêssega e mais desprotegida do sol?
Se todo
mundo estava de boas com o microondas junto, por que pitombas teve de virar
micro-ondas separado? Dentro da escuridão mais completa, as cores continuam
sendo coloridas ou só passam a “existir” quando há um mínimo fiapo de luz? Quem
decidiu que os palavrões são tão ofensivos, se se referem simplesmente ao que é
humano e, por vezes, um único foneminha os distingue de outros termos
perfeitamente inocentes? Por que bullyingam a Mônica chamando-a de baixinha e
gorducha, se ela é do exato tamanho e largura dos meninos chatões? Como é que
as palavras “cachorro” e “vaca”, ligadas a animaizitos tão queridamente lindos,
vieram a se tornar xingamento? Por que as bicicletas não se popularizaram como
tricicletas – três rodinhas para conforto e sustento dos desequilibrados? Por
que redublaram A pequena sereia da
nossa infância e mudaram (hereges!) letras amadas e conhecidas?
Por que
se matam, esfolam, desperdiçam, massacram valores absolutos do mundo em nome de
números desenhados em pedaços de papel?
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