Todo
mundo, eu inclusive, já escreveu sobre as pequenas e maravilhosas satisfações
da rotina. Mas há pouco lanchei pão na chapa – essa invenção que, tenho certeza,
era consumida no Olimpo entre uma e outra garfada de ambrosia –, e o fato de
ser bom, bonito e barato impulsionou o ânimo de listar minifelicidades pela
quaquilionésima vez. Vamos aos nominees.
Ouvir
uma voz que te leva insensivelmente ao relaxamento (sem necessidade alguma de
ser voz de alguém amado, sequer conhecido). Ter um livro-curinga que não te
exija fidelidade e possa ser aberto a qualquer hora, em qualquer página, e se
faça delicioso de qualquer modo. Deitar para ver série depois do trabalho e do
banho tomadinho. Descobrir que o sapato comprado pela internet encaixa como um
terno de alfaiate. Respirar sossego finalmente, depois que o vizinho de baixo
deixa de fazer escândalo no videogame. Pilhar um tema que flua fácil e líquido.
Montar um look pelo qual não se dava nada e que resultou chuchuzinho. Esbarrar
num meme que te faça rir dias, de puro riso naïf. Ter um choque elétrico de
fofura com o indiozinho bebê que apareceu na reportagem. Achar uma nova pasta
para sanduíche que venha embalada miúda, com fartura de tempero. Viver
ambientes de trabalho cheinhos de colegas show.
Saber
que a série favorita continua sendo renovada. Ganhar uma não contada
restituição do imposto (ah, esse prazer que nunca tive). Ficar em semiestado de
hipnose por uma estampa fan-tás-ti-ca descoberta na rua. Constatar que umas
catucadas na descarga já a fizeram voltar a funcionar com força. Soltar na hora
certa uma sacada formidável. Reconhecer terreno num quarto de hotel. Perceber
que o quarto do hotel tem varanda. Aproveitar sem correria uns biscoitinhos
amanteigados. Vestir a casa com cheiro de cinema ao fazer pipoca de
micro-ondas. Passar em frente à padaria justinho no cair da fornada. Flagrar
uns pedaços de luar na cozinha. Beber mate, mate, mate, mate, mate. Arranjar um
casamento feliz entre a cabeça e o ponto ideal do travesseiro. Embalar presente
como se fosse capa de Natal da Cláudia.
Gargalhar do grito histérico que o vizinho videogamer disparou, em pleno
de-repente.
Mergulhar
em sebo como se não houvesse ácaro nem amanhã. Apaixonar-se pelo(a)
protagonista. Comprar o amor do casal principal. Acordar na exata horinha em
que o computador acabou de atualizar. Chegar à estação na exata horinha em que
o metrô se escancarou aos passageiros. Esperar só vinte segundinhos entre você
se aconchegar e o metrô apitar a partida. Ir a lugar sem fila – e com banheiros
largos e limpos. Aspirar o lençol recém-banhadinho. Ver que a roupa realmente
não manchou. Enroscar macarrão sem respingar. Falar sem ninguém interromper. Queimar
com o coração ao abraçar. Estar em relacionamento sério com bolsa que dura
muuuuuito. Massacrar bochechas. Receber colares. Dar a mala por encerrada.
Concluir uma arrumação-tabu. Trocar os saquinhos das lixeiras. Ser obrigada a comer batata frita. Vencer o
fiapinho vilão que se alojou no dente. Assistir ao episódio com a legenda
batendo direitinho. Entender as falas em inglês quando a legenda não bate. Sair
depressa de um sonho esquisito. Sem pesar nem esforço, adormecer.
A lista
se encomprida, se encomprida e já invade o tempo do programa que me convoca. Há também dessas doçuras: sem pesar nem esforço, partir.
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