
Ele, o mágico (hoje é Dia Internacional do Mágico!), trabalha como um nosso instrumento de crença. É o sujeito que nos convence de realidades básicas: água e fogo podem não destruir jornal, flores nascem potencialmente de lenços, lenços dão à luz pombas, elos maciços se mesclam, corpos ocupam dois-três-cinco lugares no espaço, facas não furam, espadas não atravessam, serras não serram, moças bonitas não somem, dez gramas de candura e tolice colorida não matam. O mágico nos faz o sagrado favor de tornar-nos obsoletos; mesmo que por minutos, uma horinha no máximo, não temos controle das consequências, desconhecemos o rumo das expectativas, falta-nos sabedoria para acompanhar o que se esconde sob a mão, a manga, a caixa, a cartola. E por mais que a sabedoria seja bastante, falta-nos a rapidez deliciosa de reproduzir o número. Por um momento não precisamos saber, não é nossa responsabilidade explicar, não temos a obrigação da eficiência. Que saboroso ganharmos a licença de ser incapazes. Limitados. Insuficientes.
O mágico é embaixador oficial daquilo de que temos saudades sem chance de haver possuído: pó de pirlimpimpim, pó de fada, capa de invisibilidade, tapete voador, varinha de condão, vassoura a jato, máquina de dinheiro, saco sem fundo, portal encantado, teletransporte. É dono da loja de brinquedos virtual, tem procuração de realizar as fantasias louquinhas que sufocamos com o travesseiro. O mágico é a criatura com missão de ser herói, bruxo – equilibrista, Jetson, botânico, desenhista, algo de dragão, um quê de fada – em nosso nome. O mágico é a gente em versão technicolor. O mágico é nossa criança de empréstimo.
Parabéns aos Mandrakes, Copperfields, Houdinis e ventríloquos que nos representam no além do arco-íris. Daqui desta dimensão, tiro para eles a cartola – e brinco de encontrar dois coelhos num abracadabra só.