Ontem mesmo aprendi essa expressão fantástica, dos falantes de inglês. Parade-raining. Significa exatamente o que o termo sugere: o ato de chover na parada dos outros. Tem coisa mais frustrante que você ali – sentado na calçada, encarapitado na arquibancada –, à espera do desfile natalino de Gramado ou do show de luzes com Mickey & cia. no Magic Kingdom, quando desaba o temporal acachapante, implacável? o aguaceiro pesando nas roupas, destruindo carros alegóricos, dando curto nas lâmpadas, colocando choro nos guris? Pois é. Eis como age o parade-rainer. O que chamamos em português (sem a metade do charme e do significado) de estraga-prazeres. O vacilão cujo maior gosto na vida é encaroçar o angu alheio.
Sejamos justos, nem sempre é de propósito. Pode ser mera e orgânica incapacidade de abraçar as boas coisas sem desconfiança. São os parade-rainers escaldados, sofridos, que só sabem proteger às avessas – quase torcendo contra: o banco pode falir, a roda-gigante pode pifar, o Luís pode te deixar, a construtora pode sumir com as chaves, a empregada pode sumir com as joias, sua prima deve estar com inveja, seu caçula deve estar com pneumonia, no sábado deve ter frente fria. Vez por outra têm razão. Mas de modo desagradavelmente autoritário, como profetas da má-nova que se deliciam em adivinhar pequenos e grandes horrores.
Esses são os inofensivos. Nuvenzinha funesta. Pior topar com os chovedores de parada hardcore, aqueles vampirões que se hospedam em nossa confiança pra chupar energia. Os que transformam intimidade em chance de captar os pontinhos fracos e caprichar na chantagem – chantagem sutil, a mais perversa. A que planta culpas, semeia grilos, deixa crescendo uma cismazinha aqui, um ressentimento ali, uma agonia lenta acolá. Os verdadeiros parade-rainers são Iagos profissionais: envenenam na base da amizade, estragam gentilmente uma vida. No ciúme de não ter a própria.
(Comigo, tirem o cavalinho da chuva. Levanto o toldo contra parasitas emocionais. Quanto mais se aproximam esses torós ambulantes, mais ponho capa de sol.)
Sejamos justos, nem sempre é de propósito. Pode ser mera e orgânica incapacidade de abraçar as boas coisas sem desconfiança. São os parade-rainers escaldados, sofridos, que só sabem proteger às avessas – quase torcendo contra: o banco pode falir, a roda-gigante pode pifar, o Luís pode te deixar, a construtora pode sumir com as chaves, a empregada pode sumir com as joias, sua prima deve estar com inveja, seu caçula deve estar com pneumonia, no sábado deve ter frente fria. Vez por outra têm razão. Mas de modo desagradavelmente autoritário, como profetas da má-nova que se deliciam em adivinhar pequenos e grandes horrores.
Esses são os inofensivos. Nuvenzinha funesta. Pior topar com os chovedores de parada hardcore, aqueles vampirões que se hospedam em nossa confiança pra chupar energia. Os que transformam intimidade em chance de captar os pontinhos fracos e caprichar na chantagem – chantagem sutil, a mais perversa. A que planta culpas, semeia grilos, deixa crescendo uma cismazinha aqui, um ressentimento ali, uma agonia lenta acolá. Os verdadeiros parade-rainers são Iagos profissionais: envenenam na base da amizade, estragam gentilmente uma vida. No ciúme de não ter a própria.
(Comigo, tirem o cavalinho da chuva. Levanto o toldo contra parasitas emocionais. Quanto mais se aproximam esses torós ambulantes, mais ponho capa de sol.)
2 comentários:
belo texto, lindo!
Wendell Carvalho
Something 'Bout Books
O que mais existe são esses vampirões sempre dispostos a nos tirar a energia e consequentemenete a alegria rsrsrs
http://fleonandthecity.blogspot.com/
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