É uma das frases clássicas da Quarta-Feira de Cinzas: lembra-te de que és pó, e ao pó voltarás. Tapão na cara pra não deixar dúvidas. Pode-se não ser religioso nem atentar para o início da quaresma, mas a frase está lá nascendo para todos, universal na dureza, firme e fortona em sua objetividade crua. Deixa de ser besta, minha gente. Ao pó voltaremos.
Deixa de DR de BBB porque o outro teve insônia e deu bom-dia atravessado, porque falou da sua mãe com um adjetivo a mais ou a menos, porque entortou um pouquinho a boca para a esquerda – e não para a direita – quando você contou o problema no trabalho. Deixa de pedir divórcio porque o/a cujo/a esqueceu o aniversário de primeira ida ao cinema ou primeiro ursinho de pelúcia. Deixa de criar inimigo mortal porque o colega de escritório não convidou pro casamento da filha ou não devolveu o grampeador. Ao pó voltaremos.
Deixa de tentar suicídio porque o time perdeu, de quebrar o espelho porque o nariz espinhou, de largar o emprego porque o chefe rosnou, de fugir de casa porque o vaso caiu. Deixa pra lá o Chanel manchado pela prima. Deixa de lado a festa funkeira do vizinho. Deixa estar o muxoxo indiferente do caçula. O churrasco só prometido. O help só sugerido. A escolha só insinuada. A promoção não efetivada. Ao pó – voltaremos!
Deixa de fita, deixa de onda, deixa de história, de beicinho, de firula, de nhenhenhém, de tititi, de chororô. Deixa de perder cabelo cobiçando a mansão que vai virar tijolo moído. Deixa de perder dinheiro chapinhando na marra o que vai virar cabelo caído. Deixa de perder a alma tomando a propina que vai virar dinheiro maldito. Das piscinas eternas, das declarações insinceras, das mechas alisadas, das lanchas redecoradas, das fortunas de oito gerações, das modas praia dos últimos verões, olha que não sobra uma só. Voltaremos ao pó.
O que fica? O beijo real, porque tornado nuvem. O amor efetivo, porque sublimado em estrela. O auxílio honesto, porque vaporizado em ternura. A mão estendida, porque transformada em memória. O feito heroico, porque elevado a narrativa. O tudão que se ergue acima desta terra de ácaros e tsunamis; o que é estável o suficiente para se metamorfosear em arco-íris, suspender-se sobre enchentes e terremotos, flutuar sobre o caos nosso de cada dia, do fim dos dias. O que é coisa do mundo que não pertence ao mundo, é coisa de não fragmentar, de manter-se na inteireza dos diamantes abstratos, sólidos demais para virar poeira.
Tudo o mais se acaba em sua própria quarta-feira.
Deixa de DR de BBB porque o outro teve insônia e deu bom-dia atravessado, porque falou da sua mãe com um adjetivo a mais ou a menos, porque entortou um pouquinho a boca para a esquerda – e não para a direita – quando você contou o problema no trabalho. Deixa de pedir divórcio porque o/a cujo/a esqueceu o aniversário de primeira ida ao cinema ou primeiro ursinho de pelúcia. Deixa de criar inimigo mortal porque o colega de escritório não convidou pro casamento da filha ou não devolveu o grampeador. Ao pó voltaremos.
Deixa de tentar suicídio porque o time perdeu, de quebrar o espelho porque o nariz espinhou, de largar o emprego porque o chefe rosnou, de fugir de casa porque o vaso caiu. Deixa pra lá o Chanel manchado pela prima. Deixa de lado a festa funkeira do vizinho. Deixa estar o muxoxo indiferente do caçula. O churrasco só prometido. O help só sugerido. A escolha só insinuada. A promoção não efetivada. Ao pó – voltaremos!
Deixa de fita, deixa de onda, deixa de história, de beicinho, de firula, de nhenhenhém, de tititi, de chororô. Deixa de perder cabelo cobiçando a mansão que vai virar tijolo moído. Deixa de perder dinheiro chapinhando na marra o que vai virar cabelo caído. Deixa de perder a alma tomando a propina que vai virar dinheiro maldito. Das piscinas eternas, das declarações insinceras, das mechas alisadas, das lanchas redecoradas, das fortunas de oito gerações, das modas praia dos últimos verões, olha que não sobra uma só. Voltaremos ao pó.
O que fica? O beijo real, porque tornado nuvem. O amor efetivo, porque sublimado em estrela. O auxílio honesto, porque vaporizado em ternura. A mão estendida, porque transformada em memória. O feito heroico, porque elevado a narrativa. O tudão que se ergue acima desta terra de ácaros e tsunamis; o que é estável o suficiente para se metamorfosear em arco-íris, suspender-se sobre enchentes e terremotos, flutuar sobre o caos nosso de cada dia, do fim dos dias. O que é coisa do mundo que não pertence ao mundo, é coisa de não fragmentar, de manter-se na inteireza dos diamantes abstratos, sólidos demais para virar poeira.
Tudo o mais se acaba em sua própria quarta-feira.
4 comentários:
Seu texto foi duro, cativante e real. As pessoas esquecem-se de que voltaremos ao pó e passam suas vidas se martirizando por algo que não fizeram, ficam se doendo por amores inconpreendidos. Mas esquecem-se de que temos uma vida,ela é curta e feita de momentos bons ou ruins. É claro que uma pessoa não viverá em um mundo de felicidade, porém pode tentar pelo menos não ficar infeliz por qualquer desafio que o destino traga. Enfim achei o texto bonito e com sentido.
Super lindo. Fiquei até triste pelo carnaval ter acabado e olha que eu nem gosto dele.
já que parece que somos feitos de carbono também, então somos pó e pra lá voltaremos
http://rocknrollpost.blogspot.com/
Muito Bom seu blog!! ja estou seguindo!! olha o meu se possível;
http://playersgamesbrasil.blogspot.com/
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