
Tive uma relação de amor e ódio com o Xou. Adorava invocar os poderes e a honra de Grayskull, mas me faltava paciência para o xuxismo: os beijinhos-beijinhos, a xaropada, o figurino, a histeria das tietes. Mãe me fez chuquinhas no cabelo em meia dúzia de festas e só. Também me irritava a mania de pôr garotos contra garotas (já então eu odiava as segregações, e, por sinal, achava os meninos ótimos companheiros de grupo na escola). Fora os desenhos do Xou – alguns –, o que eu curtia mesmo era Canta conto, Rá-Tim-Bum, as brincadeiras mambembes do Bozo, a simplicidade de Mãos mágicas. Este último programete, frugal toda a vida, eu esperava salivando: que desenho, recorte, colagem elas ensinarão hoje? Em compensação, sempre ganhei todos os discos da loura e sabia direitinho os hits principais, como quem bate ponto. No período em que havia música durante o recreio, meu encanto era pular a coreografia de “Tindolelê” pra lá e pra cá. Mais um! mais um!...
Mais um ano se passou, mais um, mais outro. De seis passei aos trinta e um anos, e o Xou, num certo 2011, completou suas bodas de prata com o Brasil. Tudo bem que eu quase não via, não gravava e (a ser sincera) não lastimei seu término. Não importa. Se a adultice traz algo de azul, é a gente ver tudo que nos trouxeram de azul. É reconhecer, nos gestos daqui da frente, as referências de lá de trás. Este post, devidamente, é a declaração de amor àquilo que não amei – da criança que no fundo sabe, amiguinha Xuxa, quanto era bom estar e brincar com você.
(P.S.: Se – ainda – quiser brincar com a gente, pode vir, nunca é demais!...)