Na novela das seis, o atual namorado de Manu se vira para a companheira, encantado de vê-la sorrir com mais liberdade que de costume: “Sinto que tem muita alegria aí dentro”. Faz a declaração como quem dá um flagrante. Como quem diz um terra-à-vista. Ela retribui com timidez, algo vexada da manifestação que escapou. E volta, mesmo com doçura, ao seu ar de melancolia culpada, escondidinho no fundo do prazer pelo elogio.
Isso é o que somos nós, melancólicos: culpados. Qualquer alegria mais inteira vem sempre acompanhada da sensação de imerecimento, fuga, inadequação. Primeiro porque soa desrespeito à dorzita que pegamos para criar, e que carece de sombra e silêncio para continuar a nos entristecer devidamente. Segundo porque também a alegria do melancólico se alimenta de penumbra e silêncio, cresce no sossego e nas zonas úmidas, mansa, arborizada; o sol agressivo das euforias, das gargalhadas distribuídas aos potes, é uma violência à nossa felicidade comedida.
Em terceiro lugar, temos medo. Temos medo de que, se formos muito intensos no contentamento, muito exagerados no riso, muito exibidos na comemoração, assustaremos o motivo da festa, que sumirá feito passarinho. (Inconscientemente) enxergamos a satisfação como borboleta: coisa linda, frágil, quiçá breve. Não disse que os melancólicos somos culpados? culpados incorrigíveis, pisando macio no mundo para não acordar as ameaças que dormem. E, no entanto, na aparente tristeza acolchoamos o culto à alegria mais delicado. Protegemos o melhor dos momentos sob camadas de sorriso apreensivo. Celebramos a maior das datas debaixo de um isopor de prudência. É por reverenciar a alegria que não a ostentamos – como quem se poupa de usar o vestido favorito no mercado da esquina.
Antes de injustiçar um melancólico e sua amargura suposta, e sua felicidade invisível, lembre que é só gente sendo feliz devagar. Com o coração envolvido em plástico-bolha.
Isso é o que somos nós, melancólicos: culpados. Qualquer alegria mais inteira vem sempre acompanhada da sensação de imerecimento, fuga, inadequação. Primeiro porque soa desrespeito à dorzita que pegamos para criar, e que carece de sombra e silêncio para continuar a nos entristecer devidamente. Segundo porque também a alegria do melancólico se alimenta de penumbra e silêncio, cresce no sossego e nas zonas úmidas, mansa, arborizada; o sol agressivo das euforias, das gargalhadas distribuídas aos potes, é uma violência à nossa felicidade comedida.
Em terceiro lugar, temos medo. Temos medo de que, se formos muito intensos no contentamento, muito exagerados no riso, muito exibidos na comemoração, assustaremos o motivo da festa, que sumirá feito passarinho. (Inconscientemente) enxergamos a satisfação como borboleta: coisa linda, frágil, quiçá breve. Não disse que os melancólicos somos culpados? culpados incorrigíveis, pisando macio no mundo para não acordar as ameaças que dormem. E, no entanto, na aparente tristeza acolchoamos o culto à alegria mais delicado. Protegemos o melhor dos momentos sob camadas de sorriso apreensivo. Celebramos a maior das datas debaixo de um isopor de prudência. É por reverenciar a alegria que não a ostentamos – como quem se poupa de usar o vestido favorito no mercado da esquina.
Antes de injustiçar um melancólico e sua amargura suposta, e sua felicidade invisível, lembre que é só gente sendo feliz devagar. Com o coração envolvido em plástico-bolha.
2 comentários:
havia um tempo que as pessoas não tinham medo de ser feliz. acho que esse tempo se foi. felicidade agora, só nas redes sociais, pq lá ninguém é triste.
eu sou só mais um dos felizes com um pé atrás. ou seja, incompleto. como todo mundo.
Nossa... Ainda bem que eu não sou nada melancólica. Sou, sim, "muito intensa no contentamento, muito exagerada no riso e muito exibida na comemoração", hahaha. Ah, viva a alegria!!!
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