Já escrevi sobre os amores inesperados, aqueles que nos atropelam gentilmente com sua alegria de improviso. Há também os encantos inesperados, visualmente falando: as lindezas surgidas do improvável. A rua, a moita, a calçada pelas quais não se dá um níquel e que, no entanto, apresentam no susto uma cara de foto. De repente se enfeitam, posam. Um cantinho de coisa nenhuma mostra uma certa luz, uma determinada sombra, uma composição de cor impossível – e pronto: fico alumbrada.
Outro dia foi no trânsito. O carro parou quase à frente de uma varandinha velha, velha, prédio que por pouco não caía aos pedaços. Mas parou numa tal posição que, recostando a cabeça na janela do automóvel, a gente via a varandinha (em si feia, porém enfeitada de uma buganvília em flor) fazendo par com a torre da igreja de trás, e o céu azul costurando a tela. Um mimo de cenário, bem a gosto de autores românticos. Era bonito? originalmente não, ao menos da parte da varanda – caquética. A conjunção dos fatores e do ângulo é que botou formosura na cena. Típica beleza involuntária, fortuita, invisível, fadada no máximo a dois pares de olhos.
Sou, claro, tão arrebatável quanto qualquer um pela imagem de um Pão de Açúcar, por exemplo – o quadro óbvia e agressivamente belo. Orgulhosamente belo. Apesar disso, fico talvez mais comovida com essas belezas súbitas, de beira de estrada; belezas humildes porque não prioritárias, belezas que não cobram seu quinhão porque tímidas. Espantadas de terem sido vistas em sua identidade secreta. Não tímidas de acanhamento, exatamente, mas de existência despreocupada, sem cálculo e sem afetação.
Uma moça que vai na rua de estampa harmônica na roupa e adorno feliz no cabelo. Dois arbustos que por acaso se encostaram e floriram, ao mesmo tempo, cores diferentes. O braço graciosamente jogado de alguém dormindo. Um trecho de praia do ponto de vista de uma florzinha roxa, daquelas que se espalham feito fofoca. Uma borboleta que faz a sesta sobre a azaleia recente (aliás, bastava a borboleta). Um dente-de-leão despregado. Um muro de pedra com limo. Céu de tarde com nuvem rosa. Céu da noite sem nuvem cinza. Sol pondo amarelo no verde. Jambo pondo fúcsia na calçada. Árvore com cipó. Olhar com (muitas) pestanas. Beija-flor – em qualquer modo e posição.
Bonito é o que nos apaixona sem aviso, no mais afobado do horário comercial.
Outro dia foi no trânsito. O carro parou quase à frente de uma varandinha velha, velha, prédio que por pouco não caía aos pedaços. Mas parou numa tal posição que, recostando a cabeça na janela do automóvel, a gente via a varandinha (em si feia, porém enfeitada de uma buganvília em flor) fazendo par com a torre da igreja de trás, e o céu azul costurando a tela. Um mimo de cenário, bem a gosto de autores românticos. Era bonito? originalmente não, ao menos da parte da varanda – caquética. A conjunção dos fatores e do ângulo é que botou formosura na cena. Típica beleza involuntária, fortuita, invisível, fadada no máximo a dois pares de olhos.
Sou, claro, tão arrebatável quanto qualquer um pela imagem de um Pão de Açúcar, por exemplo – o quadro óbvia e agressivamente belo. Orgulhosamente belo. Apesar disso, fico talvez mais comovida com essas belezas súbitas, de beira de estrada; belezas humildes porque não prioritárias, belezas que não cobram seu quinhão porque tímidas. Espantadas de terem sido vistas em sua identidade secreta. Não tímidas de acanhamento, exatamente, mas de existência despreocupada, sem cálculo e sem afetação.
Uma moça que vai na rua de estampa harmônica na roupa e adorno feliz no cabelo. Dois arbustos que por acaso se encostaram e floriram, ao mesmo tempo, cores diferentes. O braço graciosamente jogado de alguém dormindo. Um trecho de praia do ponto de vista de uma florzinha roxa, daquelas que se espalham feito fofoca. Uma borboleta que faz a sesta sobre a azaleia recente (aliás, bastava a borboleta). Um dente-de-leão despregado. Um muro de pedra com limo. Céu de tarde com nuvem rosa. Céu da noite sem nuvem cinza. Sol pondo amarelo no verde. Jambo pondo fúcsia na calçada. Árvore com cipó. Olhar com (muitas) pestanas. Beija-flor – em qualquer modo e posição.
Bonito é o que nos apaixona sem aviso, no mais afobado do horário comercial.
4 comentários:
imagem bonita e texto muito bom
http://rocknrollpost.blogspot.com/
A surpresa pode nos arrancar suspiros...
ótimo texto, como sempre.
Compreendo perfeitamente o que você escreveu,bom saber que não sou a única a pensar assim,a ficar encantada com o céu azul,com os tons que os raios de sol fazem nascer,com o verde encantador das montanhas.A beleza simples,que podemos descrever mas que é muito difícil de ser fotografada.
www.marijleite.blogspot.com
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