terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Complô de alegria

Quem vê A vida da gente sabe que Vitória, ex-treinadora de tênis da protagonista, é uma azeda. Uma azeda profissional, em todos os sentidos. Não há chance de demonstrar alegria senão na carreira, e mesmo assim se a pupila da vez subir ao pódio, e mesmo assim se subir ao pódio não tendo cometido nenhum deslize. Frescuras como manifestação de respeito ao ex-marido, carinho às filhas, afeto pela aluna ou espírito esportivo nunca foram presenciadas. O jeitão Vitória cobra, exige, pressiona, atropela, humilha, ironiza, assedia moralmente, destrói pelas beiradas, bate-estaqueia uma autoestima. Tudo, claro, em nome de seu nome. Em nome da medalha, da realização, otimizações de tempo, êxitos palpáveis. Em nome do sucesso.

Pois não dizem que o sucesso do jogo se contrapõe à maçada no amor? Assim com a personagem. Mas não por fazer jus a ditados. Vitória simplesmente não faz jus ao mundo e a suas necessárias transpirações de vida. Vai além de merecer desamor: incorpora-o. Há, porém, uma particularidade nestes que são diques de amargura. Os que estão em volta, se não foram invadidos pela baía de fel (como os familiares de Vitória não foram), acham um meio de sobrevida, encontram jeito de desviar o curso. Unem-se numa Revolução Francesa particular, ainda que não ostensiva, ainda que silenciosa – ou principalmente silenciosa, que felicidade real não tem precisão de afronta. Fazem uma confraria de alegres, uma irmandade que exclui o ser azedo antes de renunciar à sua ração de sol.

Na novela, o complô dos felizes começa pela ex-aluna de Vitória, Ana, que não só cortou os grilhões como passou a treinar a filha da megera, Sofia. Duplo acinte. Triplo acinte: Ana ainda fez a ponte entre Sofia e sua meia-irmã Alice, abandonada por Vitória quando bebê e mais uma vez rechaçada na idade adulta. Sofia apresentou Alice à caçulinha e a irmandade (literalmente) aumentou. Para fechar a sociedade secreta de contentes, quem virou namorado de Sofia? O assistente de Vitória, Miguel, que inclusive perdeu o emprego pela “traição” profissional. Efeito colateral, OK. Nada que detivesse o ciclo inadiável, incontrolável de gente fluindo.

Verdade se diga: não há criatura com nuvem preta na cabeça, arame farpado no peito, cimento n’alma e iglu no coração que faça virar concreto armado a leveza do ser – a autêntica, a fundamental, a sustentável leveza. Nem o grito do sangue faz jedis, se jedis são, adotarem o lado negro da Força. Impossível contaminar de betume quem se decidiu passarinho. Por mais que, no calor da luta, tenha perdido um ou outro braço por dentro.

3 comentários:

Anônimo disse...

obrigado pelo seu comentário gentil.

beijo

p.s. parabéns pelo blog, adorei

Zetrusk disse...

gostei do blog '-'

Aline Marques disse...

Respondido a sua pergunta.

http://fotografiasalinemarques.blogspot.com/2012/02/graduacao-em-fotografia.html?showComment=1328663965989#c2665293776086654073