Visitei o blog Café de Fita e fui brindada com uma análise superbacana de poema de Paulo Leminski, “Aço em flor”. Mas o que mais me afaga no post é a frase com o que o autor Guillen o encerra: “A poesia precisa ser inútil para ter utilidade!”. Verdade docinha, consoladora. Em meio à síndrome de praticidade que acomete nossos dias, a poesia segue travessa, esgueirando-se nos cantos para não ganhar serviço. Não só aquela que se encarna nos poemas, que se materializa em estrofes: a poesia geral das artes, sejam faladas, filmadas, pintadas, cantadas, tecidas, esculpidas. Também a poesia involuntária, nascida de per si e independente de sujeito humano. Toda beleza se justifica pela desnecessidade de se justificar. Ou seja ela, antes, um hino à sua (à nossa) própria existência.
Colocar cabresto na arte; pedi-la de encomenda; dar-lhe uma função específica – não prejudica a boniteza da coisa se o autor for bom. Mata-lhe, no entanto, um bocadinho da alma, que já está ali selada por uma palavra de nossos patrocinadores, em vez de permanecer em estado de infância. Porque poesia é a nossa infância, é a hora do recreio que a gente se dá por dentro, para brincar de pique-pega e agarrar emoções insuspeitas. Porque poesia é que nem cavalo: não menos belo, nem menos cavalo quando selado e montado – mas sempre mais cavalo e mais belo (embora menos escovado, menos brilhante) quando solto em selvageria, entretido na fuzarca violenta de ser feliz.
Poesia somos nós sendo gente porque sim, sendo gente de propósito. E, portanto, sem propósito. Simplesmente permitindo que escorra de nós a vontade escondida, a verdade oculta, o espírito particular, para só então – mais tarde, fora do poema – moldar nossos quereres em algo funcional. Algo prático. Algo útil. Poesia é o momento de sermos brutalmente inúteis em nós mesmos, para que eventualmente esbarremos conosco em forma desarmada. Poesia é camping, somos nós em situação natural, gozando férias não remuneradas do mundo que é adulto e sólido.
Poesia é nossa parte que não está à venda.
Colocar cabresto na arte; pedi-la de encomenda; dar-lhe uma função específica – não prejudica a boniteza da coisa se o autor for bom. Mata-lhe, no entanto, um bocadinho da alma, que já está ali selada por uma palavra de nossos patrocinadores, em vez de permanecer em estado de infância. Porque poesia é a nossa infância, é a hora do recreio que a gente se dá por dentro, para brincar de pique-pega e agarrar emoções insuspeitas. Porque poesia é que nem cavalo: não menos belo, nem menos cavalo quando selado e montado – mas sempre mais cavalo e mais belo (embora menos escovado, menos brilhante) quando solto em selvageria, entretido na fuzarca violenta de ser feliz.
Poesia somos nós sendo gente porque sim, sendo gente de propósito. E, portanto, sem propósito. Simplesmente permitindo que escorra de nós a vontade escondida, a verdade oculta, o espírito particular, para só então – mais tarde, fora do poema – moldar nossos quereres em algo funcional. Algo prático. Algo útil. Poesia é o momento de sermos brutalmente inúteis em nós mesmos, para que eventualmente esbarremos conosco em forma desarmada. Poesia é camping, somos nós em situação natural, gozando férias não remuneradas do mundo que é adulto e sólido.
Poesia é nossa parte que não está à venda.
2 comentários:
gostei do texto... se o mundo fosse mais poético não seria essa loucura toda de um querer matar o outro
http://rocknrollpost.blogspot.com/
A poesia é de fato a arte do inútil! É gozar da infância, é zelar pelo som e pelo toque de veludo das palavras, é escalar o dicionário das metáforas da vida. O poeta tem o dever de mentir, de fazer bagunça, de confundir. Nenhuma poesia esclarece, e sim confunde, e os poetas se deleitam nos estranhamentos alheios. Enquanto procurarem motivos para entender ou gostar delas ninguém nunca vai apreciá-las a fundo!
Muito obrigado por nos citar por aqui e se inspirar no nosso blog para escrever! seja bem vinda a fazer o que lhe vier a cabeça com nossos textos! Que degustes muita poesia nos anos que ainda lhe faltam!
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