segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O certo

O personagem chamado “ogro” na edição do BBB que está em curso – Rafa – dispensa apresentações para a maioria dos espectadores. (Diz que) faz, (diz que) acontece e tanto deixou de fazer e acontecer que acabou no paredão. Promete sair com alguns noventa e tantos por cento de rejeição do público. Não sei quanto a vocês, mas me irritam fundamente os discursos políticos e o deslizar de quiabo esperto do sujeito; em especial o hábito de lançar, na conversa incômoda, uma última frase de efeito e virar as costas. Parece boa pessoa de má estratégia. O que me impressionou, porém, não foram as malícias do jogador, e sim uma fala aparentemente neutra que ele usou para consolar o colega Yuri em relação à saída da namorada Laisa: “A gente não sabe o que é certo e o que é errado aqui dentro”.

Pulei na cadeira. Mas como é que não sabe??... Por um lado, entendo o que queria dizer: a gente não sabe exatamente como conquistar a plateia. A gente não sabe com certeza quem é o mais simpático na visão dos votantes, não sabe como a edição está destacando os personagens, não sabe como tem sido a recepção afetiva do país. Vá lá, entendo. De qualquer maneira, é um ato falho que representa significativamente a politiquice do garoto – e, de quebra, o oportunismo essencial de todos nós.

Ora, o certo e o errado lá de dentro são, sem tirar nem pôr, o certo e o errado daqui de fora. Cumprimentar os parceiros pelo menos duas ou três vezes por dia, estando ou não de bico por causa da briguita prévia: certo. Abusar do palavrão e da vulgaridade, estando ou não numa conversa amistosa entre membros do mesmo time: errado. Ser justo na partilha do espaço e da comida, sem avançar uma migalhinha na cota alheia: certo. Ser egoísta no campo sonoro, amofinando o próximo com cantos e gritarias desvairadas: errado. Investir na coerência dos atos, consciente de que duas caras se destroem mutuamente ao longo de qualquer período: certo. Confiar em preconceito e fofoca, venha esse feiume do lado e da fonte que vier: errado. Sem neura, sem mistério. Só a simples, a velha questão de pesar o publicável pela balança do autêntico.

O que acontece, embora resistamos a essa complicada obviedade, é que as vidas pública e privada só devem separar-se em atos de amor e higiene. No mais, não convém à decência sermos massinhas de modelar tão obscenamente flexíveis quanto manda o gosto do freguês, a análise parcial do espectador. Jogamos limpo quando mudamos de amadurecer; jogamo-nos lixo quando nos mascaramos de seduzir. Seduzir no mau sentido. Seduzir de comprar lebre sendo gato. De vender material perecível, suscetível, volátil, impermanente, perigosamente relativo. De ser um atraentíssimo quase alguém.

Sólido é ter certos e errados que não oscilam conforme o tamanho da espiadinha.

Um comentário:

OGROLÂNDIA disse...

O quê????? Há nessa bagaceira desse BBB um jogador que se denomina ogro? Vamos investigar a legitimidade desse rapaz.
Pode ser um falsário.
Beijogro