Eu lia um conto de Edith Wharton (autora que escreveu entre os séculos XIX e XX), chamado “Madame de Treymes”. Esbarrei com o trecho em que o protagonista masculino, John Durham, se dá conta do motivo de nunca ter tentado conquistar sua musa quando ainda era uma jovem americana solteira – e não uma dama francesa divorciada: “Era porque havia, com pequenas modificações, muitas outras Fanny Frisbee; enquanto antes nunca houvera, no seu horizonte, uma Fanny de Malrive”.
Por que somos (finalmente) amados? Quando? Quando somos novidade. Não é que apenas no início da relação sejamos atraentes, pela natureza de carne fresca. Nem que seja preciso saltar de parceiro em parceiro na busca febril de sangue inédito. Nada. Ser novidade não é, necessariamente, o ato de jamais termos aparecido. É a condição de refazermos nossa matrícula dentro do outro, de sermos admitidos sob um novo número.
A situação do conto o prova. Fanny era, para John, uma conhecida de anos; conterrânea, integrante de família amiga, desde sempre linda e adorável. Assim como ela, várias. Mas foi só debaixo das regras de alta classe francesa, debaixo de muito esforço de adequação madura, debaixo do tempo e da maternidade, que Fanny desenhou-se única. Virou surpresa. Virou descoberta exclusiva, ovo de Colombo. Virou promessa e desafio inesperados para John, depois de anos sendo belo quadro pendurado na rotina.
Se todos a quem recebemos, recebemos como (boa ou má) surpresa, é também só como (boa) surpresa que efetivamente amamos. Abraçamos qualidades e defeitos; mas, óbvio, é o frescor das qualidades que nos ata – amar é caçar para nós uma primavera portátil, um nirvana de bolso. É inaugurar nossa América, encontrar quem ateste nosso talento de descobridores. No fundo, é disso que corremos atrás: da pedra que nos diplome como garimpeiros eficientes.
Admirar a preciosidade alheia é flagrar nosso bom gosto tendo um caso com o espelho.
Por que somos (finalmente) amados? Quando? Quando somos novidade. Não é que apenas no início da relação sejamos atraentes, pela natureza de carne fresca. Nem que seja preciso saltar de parceiro em parceiro na busca febril de sangue inédito. Nada. Ser novidade não é, necessariamente, o ato de jamais termos aparecido. É a condição de refazermos nossa matrícula dentro do outro, de sermos admitidos sob um novo número.
A situação do conto o prova. Fanny era, para John, uma conhecida de anos; conterrânea, integrante de família amiga, desde sempre linda e adorável. Assim como ela, várias. Mas foi só debaixo das regras de alta classe francesa, debaixo de muito esforço de adequação madura, debaixo do tempo e da maternidade, que Fanny desenhou-se única. Virou surpresa. Virou descoberta exclusiva, ovo de Colombo. Virou promessa e desafio inesperados para John, depois de anos sendo belo quadro pendurado na rotina.
Se todos a quem recebemos, recebemos como (boa ou má) surpresa, é também só como (boa) surpresa que efetivamente amamos. Abraçamos qualidades e defeitos; mas, óbvio, é o frescor das qualidades que nos ata – amar é caçar para nós uma primavera portátil, um nirvana de bolso. É inaugurar nossa América, encontrar quem ateste nosso talento de descobridores. No fundo, é disso que corremos atrás: da pedra que nos diplome como garimpeiros eficientes.
Admirar a preciosidade alheia é flagrar nosso bom gosto tendo um caso com o espelho.
5 comentários:
Gosteei mto do blog! Ótimo textooo!
Blog Atualizadoo!!! Dá uma passadinha lá, vs vai adoraar!!!!
http://echidellanima.blogspot.com/
Beeijos *-*
muito legal Parabéns!
gostei muito do texto, faz com que reflitamos sobre a perspectiva da relação humana.
abs
Poxa, texto muito bom !
rs Que sacada!
adorei as metáforas, tudo! rs
parabéns.
"nirvana de bolso"...sensacional.
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