
Somos todos famílias repentinas de partos inesperados. Todos mães súbitas. Todos anfitriões perplexos. Esta vida, esta tresloucada vida não cansa de nos pôr nos braços frutos enroladinhos em trouxas, frutos que carregávamos insuspeitos. Não sabíamos estar grávidos da fome de morar fora, até que aquela viagem nos atirou no reino encantado tão longamente desconhecido. Não sabíamos estar grávidos da paixonite pelo melhor amigo, até que quisemos morder o nariz da mocreia com quem ele marcou de ir ao show. Não sabíamos estar grávidos da vocação de ser chefs, até que acompanhamos a prima no cursinho básico de culinária e nos vimos como natos cortadores de cebola. Não sabíamos estar grávidos de uma carga tremenda de felicidades possíveis, de uma caçambada de vidas alternativas, de uma multidão inacreditável de destinos. Não sabemos, até que o coração urra em dores ou delícias do parto.
Bem-vindos sejam bons ladrões que nos tomem a vontade de assalto e nos mergulhem em versões – desde que não imorais, ilegais ou engordantes – distintas de nós mesmos. Que nos façam dar à luz, trazer à tona, chamar ao mundo porções nossas que receberão boladas de riso em herança. Pena que, inconvenientemente, tantas vezes nos chegam contrações de renascimento sem o preciso tempo de nos preparar enxoval.
Nenhum comentário:
Postar um comentário