Gosto de acompanhar (sábado reprisa) outro daqueles programas inusitados do Discovery Home & Health, Eu não sabia que estava grávida. O título é autoexplicativo: mulheres vão vivendo muito bem a vida, tal e coisa, lalalalalá, começam a ter uma coliquinha – ou uma dor de mamute empalado – e descobrem que darão à luz um filho. Ou dois. Agora. É negócio que, se visto em novela, faria a gente xingar o autor. Improvável demais para ser ficcional. Já teve moça com esclerose múltipla parindo gêmeas no banheiro, mulher com laqueadura e pré-menopausa crendo que estava eliminando um tumor, senhoritas que engravidaram tomando pílula, senhoras que fizeram dez testes de gravidez e receberam dez negativos – até a hora do parto. Loucura. Não engordam (ou engordam miudíssimo), não enjoam, não desejam. Não esperam esperar. E, quando menos esperam, eis o rebento escorregando pelas pernas, matando de susto a família repentina.
Somos todos famílias repentinas de partos inesperados. Todos mães súbitas. Todos anfitriões perplexos. Esta vida, esta tresloucada vida não cansa de nos pôr nos braços frutos enroladinhos em trouxas, frutos que carregávamos insuspeitos. Não sabíamos estar grávidos da fome de morar fora, até que aquela viagem nos atirou no reino encantado tão longamente desconhecido. Não sabíamos estar grávidos da paixonite pelo melhor amigo, até que quisemos morder o nariz da mocreia com quem ele marcou de ir ao show. Não sabíamos estar grávidos da vocação de ser chefs, até que acompanhamos a prima no cursinho básico de culinária e nos vimos como natos cortadores de cebola. Não sabíamos estar grávidos de uma carga tremenda de felicidades possíveis, de uma caçambada de vidas alternativas, de uma multidão inacreditável de destinos. Não sabemos, até que o coração urra em dores ou delícias do parto.
Bem-vindos sejam bons ladrões que nos tomem a vontade de assalto e nos mergulhem em versões – desde que não imorais, ilegais ou engordantes – distintas de nós mesmos. Que nos façam dar à luz, trazer à tona, chamar ao mundo porções nossas que receberão boladas de riso em herança. Pena que, inconvenientemente, tantas vezes nos chegam contrações de renascimento sem o preciso tempo de nos preparar enxoval.
Somos todos famílias repentinas de partos inesperados. Todos mães súbitas. Todos anfitriões perplexos. Esta vida, esta tresloucada vida não cansa de nos pôr nos braços frutos enroladinhos em trouxas, frutos que carregávamos insuspeitos. Não sabíamos estar grávidos da fome de morar fora, até que aquela viagem nos atirou no reino encantado tão longamente desconhecido. Não sabíamos estar grávidos da paixonite pelo melhor amigo, até que quisemos morder o nariz da mocreia com quem ele marcou de ir ao show. Não sabíamos estar grávidos da vocação de ser chefs, até que acompanhamos a prima no cursinho básico de culinária e nos vimos como natos cortadores de cebola. Não sabíamos estar grávidos de uma carga tremenda de felicidades possíveis, de uma caçambada de vidas alternativas, de uma multidão inacreditável de destinos. Não sabemos, até que o coração urra em dores ou delícias do parto.
Bem-vindos sejam bons ladrões que nos tomem a vontade de assalto e nos mergulhem em versões – desde que não imorais, ilegais ou engordantes – distintas de nós mesmos. Que nos façam dar à luz, trazer à tona, chamar ao mundo porções nossas que receberão boladas de riso em herança. Pena que, inconvenientemente, tantas vezes nos chegam contrações de renascimento sem o preciso tempo de nos preparar enxoval.
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