quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Please, Mr. Postman

A China, essa danadinha. Preocupada com o aumento grandão de divórcios no país (em 2010, quase dois milhões de casais se separaram – 14,5% mais do que em 2009), criou uma estratégia interessantíssima. Mais especificamente, o correio de Pequim criou. Recém-casadinhos vêm sendo convidados a enviar cartas de amor lacradas, que serão entregues aos respectivos cônjuges no aniversário de sete anos de casamento. Sim, no de sete anos – o temido, o famigerado. Aquele em que acontece a famosa crise. A ideia é clara: fazer os pensantes em divórcio se lembrarem de como se sentiam (em especial, de como o outro se sentia) quando disseram o “sim”. Fazê-los receber uma foto fiel, digitalizada, com um catatau de pixels, de como andavam sentimentos e expectativas nas primeiras cenas da união. Um instantâneo no tempo. Um flash. Um túnel.

Pirei na iniciativa deliciosa. Quem quer que tenha sido o gênio, é Nobel da Paz na cabeça. Qual favor nos podem fazer de mais substancial do que marcar reencontro com um eu, com um ele de lua de mel? Que maior presente do que colocar, ao pé da árvore, parte de nossa inocência anterior? uma ponte para nossa Terabítia, um portal para nossa Pasárgada, um passaporte para a Disney de uma relação cheirando a leite? Cartas de amor são um congelamento de nossa integridade. Nada mais do que elas nos apreende, detém e conserva em formol. Por quê? Porque nelas – salve, Pessoa! – somos ridículos. Saudavelmente ridículos. Livre e sinceramente ridículos. E pouca coisa existe de mais enternecedora do que ver o outro nessa nudez, nesse desarme que assume o risco de uma chantagem futura. O ridículo documentado. Total confiança. A entrega total, em si mesma.

Torço, com afeto, que os casaizitos da China aceitem o convite e coloquem em palavras suas felicidades inaugurais. Que, bem no instante em que o outro ameaça voltar para a casa da mãe, o carteiro toque a campainha com um “quero dividir a vida com você” debaixo do braço. Que, no exato momento de o outro gritar suas broncas batendo portas, venha o Sedex com um “eu te amo” sussurrado no ouvido. Que cheguem súbitas as promessas, no meio das cobranças; que desembarquem os beijos repentinos, contendo os tapas (metafóricos, espero). Que a vida cinza se veja espantada com a ventania de cor antiga, com a alegria íntima, familiar. Que haja o susto impagável das riquezas inesperadas. Ou esquecidas.

Vocês, não sei. Vou já rascunhar minha cartinha a ser entregue – em mãos – em algum novembro de 2018. Entre nono e décimo brindes, ou sétima e oitava músicas da festa ploc. Cheers!

4 comentários:

Renan Leal disse...

Q "lugarzito" mais gostoso! Gostei do template, do astral e da ideia das cartas para o futuro... Beijão!

Anônimo disse...

ai, eu amo esse blog.
é tipo aqueles livros que você se apaixona só de ler as primeiras palavras *-* e esse texto é mto legal :)

Anônimo disse...

nossa, chegar a 7 anos já é heroismo!

http://cafedefita.blogspot.com/

Tiago Guillen

Hysteria Project disse...

caraca, ideia genial dos correios

só espero q dê certo o/