sábado, 16 de julho de 2011

De volta ao começo

Rubem Alves – ele de novo! – e eu concordamos que a mais bela declaração saída de mão humana está nos versos de Fernando Pessoa: “Quando te vi amei-te já muito antes/ Tornei a achar-te quando te encontrei”.

Não que eu seja das tais que creem em paixões à primeira esbarrada, amores de outras vidas (uma já não dá e sobra?), destinos e maktubs. É passar muita procuração para outrens fantásticos, atirar a culpa em arrebatamentos convenientes. Não fui eu, foi o boto, a moira, a lua, a estrela, o signo, o ascendente, a faísca, a fatalidade: toma que o filho é dela. Amor não. Amor não adentra, não violenta, não nasce de magia doida. Amor transpira, sai – depois que pausadamente se instalou, após semanas arrumando as prateleiras. Meses. Anos. É com magia que permanece, vá lá, mas não magia involuntária. O abracadabra do bilhetinho “esquecido”, o hocus-pocus da data lembrada, a poção do milkshake-surpresa no lanche, o feitiço do perfume borrifado no pulso. Sem asas de morcego, sem crina de unicórnio na fórmula: 10 ml de delicadeza dissolvidos em 10 mil litros de suor. Paixão bate que nem virose; amor é erguido, tem andaime, dorme com uma eterna placa de “estamos trabalhando para melhor servi-lo”. Amor é Disney: full-time job com jeito de brinquedo, paraíso de férias sobre bastidores de labuta, fantasia aparente sobre cimento oculto. Amor tem expediente, tem manutenção. É a casa de tijolos dos Três Porquinhos, a faca só lâmina de João Cabral. Voa com asa adjetiva, mas pisa em chão substantivo. Amor não é bolinho. Amor demora.

Amor demora tanto para entregar chaves e escritura que começa a ser construído antes de ter comprador. Quando, então, vemos o amado pela primeira vez, já tínhamos aberto licitação em nós e iniciado a obra. Chegamos com a fundação prontinha. Mas tome estrada! até o olhar virar morar, até a base virar parede.

“Quando te vi”, meu Fábio, foi num velho setembro; quando te vi com ver diferente, muitas sextas-feiras depois; e foi no 16 de um certo julho que nossa base virou parede, que olhares dados viraram mãos dadas. Há vários julhos me surgiu a impressão de eu sempre ter sido dois. Há vários julhos, deixou de ter havido o antes: todo o percurso se fez chegada. Não nos juntamos como metades perfeitas, juntamos inteiros somantes – mais inteiros quanto mais tempo nos soma. Amo o que ficamos sendo e o que esse nós fez meu eu passar a ser. Eu que era rascunho de mim.

Tornei a achar-me quando te encontrei.

7 comentários:

... disse...

Penso exatamente como você, amei teu blog, viu?! tá show!
Seguindo você, se quiser me seguir também, ficarei feliz.
Beijos.

Sandro Batista disse...

Como diz um samba " E NEM CABE EXPLICAÇÃO"....

Logo pela manhã ler algo tão bonito e ao mesmo tempo sincero, direto, sem fru-frus, sobre o amor, é sinal de que o dia será muito bom...

Bom dia pra vc tb!

http://estacaoprimeiradosamba.blogspot.com/

robson disse...

belo texto, parabens

se possível, visite meu blog

www.semente-terra.blogspot.com

Karoline Brasil disse...

aaain *--* que blog mais cute .. amei tudo aqui .. incluse esse texto! Você tá de parabéns! continua assim!

Anônimo disse...

E o menino com o brilho sol
Na menina dos olhos sorri e estende a mão
Entregando o seu coração
E eu entrego o meu coração
E eu entro na roda e canto as antigas cantigas
De amigo irmão
As canções de amanhecer
Lumiar a escuridão
E é como se eu despertasse de um sonho
Que não me deixou viver
Que a vida explodisse em meu peito
Com as cores que eu não sonhei
E é como se eu descobrisse
Que a força esteve o tempo todo em mim
E é como se então de repente
Eu chegasse ao fundo do fim
De volta ao começo
De volta ao começo
Ao fundo do fim


Sou obrigado a te seguir.

Bersebah disse...

Amor...não é muito minha praia...


Apesar disso é um bonito sentimento.

Floradas de amor disse...

É, o amor já está na gente só a espera do 'alvo' =)
Gostei do blog!
=D