quarta-feira, 27 de julho de 2011

Filhos próprios

Às vezes guardo, acho e reacho os ditos engraçados do “Entreouvido por aí” que aparecem na Revista de domingo. Outro dia reachei a fala encantadora de uma menininha para as amigas: “Não tenho irmãos. Sou filha própria”.

Isso, é claro, foi pronunciado do alto da sabedoria de quatro, cinco, seis anos, ainda embananados com o vocabulário. Sabemos perfeitamente o que a pequena quis dizer – filha única. Não importa. A jovem autora acertou no que não viu. Filhos únicos, gêmeos, caçulas, com o mais velho no pé ou 37 mais novos pelo braço, uma coisa é crucial: sermos todos filhos próprios.

Nada mais é do que alçar o faça-o-que-eu-faço ao mesmo cargo do faça-o-que-eu-digo, este funcionário do mês, incorruptível, exemplar, que botamos para assumir a educação dos pimpolhos. Que Eu Digo trouxe de Yale o doutorado em nutrição, sociologia, ética, odonto, filosofia, moda e bons modos – e sabe: que você não escovou os dentes, que deve ligar para agradecer, que precisa pedir desculpas, que o short está curto demais, que a conta do celular não está curta o suficiente, que não tem legume suficiente, que tem biscoito de mais, que é urgente estudar, escutar, fechar carteira, fechar torneira. Sabe. Dá meia-noite, filhos na cama, Que Eu Faço assume: deixa a torneira correndo, dorme de maquiagem, entra no cheque especial, exagera no decote, rouba biscoito de mais, não tira legume suficiente. E acorda culpado, rechonchudo, hipertenso, um rombo no molar e outro no bolso, desde que as crianças – ah! as crianças – despertem sólidas, faceiras e educadas. Que pai e mãe ruim que se é da gente mesmo.

Por que nosso Dr.Jekyll cuida (quando cuida) zelosamente dos herdeiros, por que nosso Mr. Hyde nos trata de maneira porca? Tiramos de letra (quando tiramos) o jantar do marido, o aniversário do chefe, o dentista do Huguinho, a natação do Zezinho, a informática do Luisinho. Com o que sobra da gente, nos deixamos órfãos. Não nos pegamos para criar. Não nos amamentamos com a fugidinha pro cinema, com o livro engavetado, com a quinta de sagrada happy-hour, o DVD de sagrado happy-end. Largamos nossa mão na rua. Não nos levamos mais à escola. Nos batemos. Nos ignoramos. Nos pomos de castigo. Como deu tudo errado hoje, vou para a cama depois de três sobremesas.

Procura-se: babá de nós. Pra não dormir em serviço. Qualquer piscadinha, a gente foge da novela e vai preparar o almoço de amanhã.

10 comentários:

Nubia Santos disse...

Muito bom esse texto *-* Não sou mãe , mas sei que deve ser exatamente assim que elas se sentem no final do dia .

Pequeno Luiz disse...

essa foto já vale o post

http://radiowebsafira.blogspot.com

Lucas Adonai disse...

gostei do texto ;d

Viviane Camacho disse...

eu tb não sou mãe ainda . Estou me preparando para ser. Mesmo que em um futuro distante. adorei o post.

Alice disse...

Olá! Entra aqui? -> http://vivendovidacomoela.blogspot.com/
É um blog para pessoas de personalidade forte e que sabe o que querem.
Espero por você lá!! Se gostar dele, tente segui-lo ok?
Beijo!!!

Absolute Dream disse...

Ameii o blog !
Tô seguindo, faz o mesmo para ajudar na meta de 100 seguidores ?
Valeu !
Bjinhos doce *--*
www.mini-fofoquinhas.blogspot.com

Lillo G. disse...

SOU PROFESSOR, E SEI MUITO BEM QUE OS FILHOS ÚNICOS SÃO OS PIORES.



TEXTO NOVO. ACESSE, LEIA, COMENTE E DIVULGUE. PASSA LÁ:
http://www.thebigdogtales.blogspot.com/2011/07/como-se-vive-vida.html

Wellington disse...

Olá Fernanda, em resposta ao seu comentário em meu blog escrevi: "Olá Fernanda! Fundoshi aqui no Brasil é algo que imaginei e o volume que ele faz ou o clima bem Tarzan que ele teria realmente seria uma revolta contra a moda. Mas, em se falando de Japão estar em Tóquio usando uma Yukata que é um quimono casual, leve e bonito para conhecer a cidade o fundoshi é uma ótima pedida ainda mais para literalmente entrar para o clima japonês entende? Penso que ele é sexy sim mas tudo depende do momento, de quem se candidata a usar e onde. Eu só depois de muita academia que usaria. É o mesmo desafio de estar na praia de sunga. Tem-se que ter amor aos olhos dos outros pra não assustar ninguém na praia. …rsrsrs… Baiaku de sunga não! …rsrsrs… Eu adoro os fundoshi vermelho! Fiquei muito contente com seu comentário, pelo carinho e pelos parabéns Fernanda! Seja bem vinda ao NeoWellBlog! Volte sempre! =)"

Abraços!

http://neowellblog.wordpress.com/

Bárbara Ferreira disse...

Oi Fernanda!
Muito bom o texto, somos todos filhos proprios mesmo! :)
Obrigada pelo seu comentario! To te seguindo tb!!
beijoo
http://pinkglamblog.blogspot.com/

Nanna M. disse...

Adorei o texto! A gente precisa mesmo aprender a tomar conta de nós mesmos. E também aprender a dar bons exemplos. Por qe não adianta nada exigir o certo e fazer o errado, né?
Seu blog ta super legal! Dá uma passada no meu?

http://pipocaeautofalantes.blogspot.com/

brigada! bj