Não costumo gostar das típicas xaropices do “Arquivo confidencial” do Faustão, mas foi excelente a participação de Cássia Kiss no programa de ontem. Cássia conseguiu a proeza de ser pouco interrompida pelo apresentador e mandar seu recado com energia saborosamente objetiva: não se pode virar escravo de filho, não é normal nem lícito que a criança seja satisfeita em cada cisma caprichosa, bata nos pais, fale palavrão. A não ser que se esteja engordando de propósito um futuro queimador de mendigos, espancador de homossexuais, brigador de boate, realizador de pegas. Se a intenção é criar gente, mimo é cartilha a ser incinerada pelo MEC.
Mas o que mais me deliciou na entrevista foi quando a atriz – para carimbar a necessidade de os serezinhos humanos crescerem sem se considerar napoleões ou cleópatras – citou uma fala de seu marido. Segundo ele, todos deveriam, ao acordar, passar por um aparelhinho essencial: o humildificador. Chuveirinho de dar banho na alma com substância orgulhicida. Máquina de corrigir o grau dos olhos de dentro, de permitir enxergar no espelho o tanto que a gente é: nem mais nem menos que todos os outros.
Alguns podem torcer o nariz, com o coração já encascorado pela velha confusão de sentidos: humildade = humilhação. Nada mais falso. Humildade não é virar réptil, é ganhar asas. Não é lamber botas, é lustrar as próprias. Lembro-me da professora ensinando Manuel Bandeira, poeta da humildade: é ficar perto do húmus, da terra, plantado sólida e lucidamente no chão. Assumir com ternura seu lugar no mundo, tão próximo das formigas como dos jequitibás, tão irmanado à concha quanto ao Himalaia. Humildade é ver e ver-se com igual nitidez, colocar próprio e alheio nivelados na balança.
Por isso mesmo, Cássia Kiss deu mais uma aulinha de humildade ao aceitar de bom grado os elogios que parentes e amigos lhe fizeram. Recebeu-os emocionada, porém sem a modéstia constrangida que usamos para negar qualidades – aquela modéstia arrogante de, no fundo, ruminar: sou bom como você diz, mas isso é porqueira, tenho condição e obrigação de ser perfeito. Sim, não nos falta condição e obrigação de ser perfeitos. É furada, no entanto, desejar o perfeito de um dia sem assumir (digo de novo: com ternura) o bom de hoje. Ter gana do “perfeito” sem enxergar sobriamente o “bom” é querer, por soberba, furar a fila. É pretender o auge sem passar, como todos passam, pela fase lenta, trabalhosa, diária, paulatina do “melhor”.
Humildifiquemo-nos: única maneira de a gente se respirar como deve.
7 comentários:
Cassia kiss sempre me surpreende, não vi o programa ontem mas este seu reláto é suficiente para ilustar o ocorrido.
No "arquivio confidencioal" o que mais me incomoda é toda o choradeira e elogios, que sempre me pareceram falsos e muito me incomodam.
Sobre a Humildade, é ótima a frase do marido dela.
E penso que hoje em dia muitas crianças são "treinadas" para o mundo, para serem capaz de neles sobreviverem e para ter sucesso, deve-se ser esperto, aproveitar a oportunidade e nao deixar que abusem de você, e claro que tudo isso deixa muitos deshumildes, e saem queimando mendigos por ai...
ótimo texto Fernanda
http://www.umcontoemeio.blogspot.com/
Fantástico teu texto Fernanda, não pude ver o Faustão, e justo no dia que tem algo interessante pra se ver.
Teu texto nos dá vontade de querer sempre mais...sensação boa..
Grande abraço.
Valeu pela visita.
bons Ventos!!
Gostei muito da ideia do seu blog e seus textos, Parabéns
Te sigo aqui!!
http://matheusgobetti.blogspot.com/
Poxa, gostei ! :D
ñ pudi assistir o faustão ontem mais adorei seu texto viu =) .. muito bom mesmo =)
bjos
Gostei do seu blog, são muitos textos e todos muito interessantes!
Meu blog:
http://azizefashion.blogspot.com/
Minha page:
http://www.facebook.com/pages/AZIZE-FASHION/133491186723572
Twitter:
@AzizeFashion
@SamantaAzize
Gostei do seu blog, são muitos textos e todos muito interessantes!
Meu blog:
http://azizefashion.blogspot.com/
Minha page:
http://www.facebook.com/pages/AZIZE-FASHION/133491186723572
Twitter:
@AzizeFashion
@SamantaAzize
Postar um comentário