Os Estados Unidos querem abolir, nas escolas, o ensino de letra cursiva (popularmente conhecida como “de mãozinha dada”). Vê se não é de propósito essa decisão sintomática. Se não é comigo. Eu tento, eles é que não deixam; me obrigam à metáfora-clichê: mãos dadas estão ficando obsoletas.
Nosso tempo decidiu outras prioridades – preparar meninos para a digitação ligeira, para a teclagem eficiente no celular. Aliás, preparar para quê? os tais meninos dependuram-se no teclado antes da primeira chupeta, mandam torpedo pra lembrar o horário da mamada seguinte. Alfabetizar, segundo desejam, pode oficialmente virar tarefa de juntar (ou justapor) letras de forma. Mesmo no papel. Foi-se a época em que elas, as máquinas, tudo que pretendiam era ser gente; computadores ganharam fontes desenhadinhas, redondinhas, direitinhas como a letra aconchegante que só nós, homo-sapiensmente, fazemos. Pra quê? Não é visivelmente mais prático partir pro vice-versa? Não sai mais em conta mecanizar-nos que tentar incutir humanidade em meia dúzia de parafusos? Concluíram os americanos, de uma vez por todas, que sim. Tomemos então posse de nosso novo DNA, nós monstros de Frankenstein, Edwards Mãos-de-Tesoura sem lâminas – com celulares – nas pontas dos dedos. Mais do que nunca: replicantes. Aperte-se o botão vermelho para iniciar a transfusão.
Estou sendo dramática? assumo. Um minuto de silêncio em memória da caligrafia. Dos enfeitadores de nomes em convites de casamento. Das cartinhas amorosas de próprio punho (com borda de hidrocor lilás e adesivo Amar é). Dos textos de Tia Elisa no quadro-negro. Dos bilhetes clandestinos durante a aula. Do caderninho de escrever redondo. Da assinatura. Pois é: como é que fica a assinatura? (Talvez, modernamente, voltemos às digitais – o que não foge à coerência gramatical. Estamos ou não em processo de digitalização progressiva?).
Quem está limpando a garganta para discursar sobre os encantos das novas mídias, faça o favor de apontar esses argumentos pro outro lado. Acho bárbara a evolução – mas não consigo ser muderna nesse tanto. Escrever à mão (dada) é feito ikebana, grafite, escultura: não importa se útil, é bonito porque sim. Renunciar a isso é abandonar a última fronteira comunicativa entre humanos e androides. É assumir-se eu-robô. É deixar a personalidade da grafia para abraçar o que nos torna uma multidão de enlatados.
E digo isso (também) ao pé da letra.
6 comentários:
É tão bom escrever (não quando a professora enche o quadro, SIM, temos uma que ainda faz isso, RSRSRS). Sempre gostei de escrever, sei lá, é tão bonito. Cada pessoa tem sua letra, é uma espécie de identidade. Com as letras de forma, fica todo mundo tão igual. Mas como você disse, os tempos são outros. Ou melhor, nosso tempo está se transformando em outro e estamos vivendo isto.
mantenho umdiario..daquels velhinhos com cadeado ate hoje.. amo escrever e acredito na importancia de conservar esse ato
Hoje em dia estão surgindo inúmeros pseudo-alfabetizadores e isso é lamentável!
Sabemos que por mais que surjam novidades, o tradicional é sempre o melhor quando se fala em ensino de alfabetização.
Aqui onde eu moro a Sec. de Educação aboliu a forma de alfabetização em que se treina caligrafia de mãos dadas e também as ayividades de cobrir pontilhados. Não concordo.
Escrever é muito bom e acho ridículo essa lei americana , é muito bonitinho escrever com as letras juntas . Parece uma boa metáfora mesmo , pois vem de um país com sentimentos tratados com mais frieza.
http://fleonandthecity.blogspot.com/
Tem um vídeo contra a homofobia na Irlanda (pois é, na Irlanda não existem cristãos radicais tão radicais como os cristãos radicais do Barsil, não é curioso?)q cujo tema é justamente dar as mãos.
Qqer coisa veje aqui nesse blog: http://www.ponderantes.com.br/2011/07/contra-o-bullying-homofobico-licao-da.html
Concordo pleanmente ;)
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