É, não deu pra gente. O Brasil foi, de novo, defenestrado da Copa. Com direito a vexamezinho em cadeia mundial. Mais inacreditável foi a classificação adversária: o Paraguai está dentro sem ter vencido uma vezita. Quatro empates no currículo. Pode até papar a taça continuando na maciota, só administrando zero-a-zeros o bastante para, como ontem, ganhar nos pênaltis. Bonitezas do futebol.
Desmerecido? Injusto? Absurdo? Seja; mas nisso havemos de convir: não muito diferente da vida longe dos gramados. O episódio da Copa América me lembrou irresistivelmente a fábula da lebre e da tartaruga, na qual a coelhona, exímia corredora, perdeu a disputa para a parceira lerda porque esta prosseguiu, sem se dar ao luxo de parar para descansar. Sabedora de não ter nenhuma vantagem natural, a tartaruga fez o seu. Nada de desperdício. Nem um segundinho a jogar fora com lamentações, floreios ou antecipadas desistências. A lebre, abusada, não suportou viver com tanto favoritismo e resolveu chamar a sorte para uma partidinha de pôquer. Literalmente dormiu no ponto. Escangalhou sua chance com a displicência besta dos que se fazem campeões de véspera.
É fato que as lebres bêbadas, as seleções canarinho, os francos favoritos, os gênios incontestáveis nos seduzem por carregarem (aparentemente) o selo de uma estrela, a retaguarda de uma fada-madrinha. Que não se fiem nela. Genialidade mágica funciona ficcionalmente, tem glamour no livro da Carochinha e na Sessão da tarde. Nesta dimensão alheia a histórias-pra-boi-dormir, quem manda bem são as tartarugas equilibristas, os que cerram os dentes (como diria o sobrevivente dos Andes) e vão à luta, carecas de saber que o material das vitórias é tijolo e não fogo de artifício. É mão, não é garganta. É palestra eficiente, não é papo de cafezinho. É estudo benfeito, não é olhada no caderno. É teimosia de formiga, não é prodigalidade de cigarra.
Não se trata de um libelo a favor da mediocridade. Ao contrário. Nada há mais medíocre que a pequenez mental de lançar os próprios dons no esgoto. Sábia é a economia de aproveitar, de aproveitar-se, de fazer de cada seu morango uma torta e de cada limão, pelo menos um molhinho de peixe. Quem dá dois passos pra trás com visibilidade para avançar 50 léguas é medíocre. Quem só consegue avançar 1 mm por vez e não recua nenhum é o cara. Não dá pra enfiar quatro gols em sequência e partir pro abraço? Problema não. É ir correndo das faltas, acertando os passes, fugindo dos empurrões. Fazendo por onde. Fazendo seus ondes, quandos e quês.
E não marcando nenhum gol contra. É o mínimo que esperamos de nós.
6 comentários:
Amei como o assusnto da copa e da perda do Brasil serviu como enredo pro texto!
*_*
bjs
http://oicarolina.wordpress.com/
O pior mesmo é que depois do jogo aparece um Faustão todo sorridente. Para mostrar para o povo brasileiro que tudo passa, até a vergonha do futebol brasileiro.
Enquanto isso, ministros são derrubados do Governo sem nenhuma explicação para dar. Isso a TV não mostra.
Parabéns pelo blog!
a argentina ultimamente tem me dado mais alegria que o Brasil...
afinal pra mim ver os argentinos sendo eliminados é impagavel
por mim eles nao ganham nem campeonato de gude
o Basil foi eliminado mas a argentina ja tinha me dado alegria suficiente no sabado e garantido meu fim de semana
abraços
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www.ouvindoparalamas.blogspot.com
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Incrivel a sua comparação! Estou encantada com seu blog, parabéns! =)
http://mmmorango.blogspot.com/
SEM COMENTÁRIOS PARA AQUELA PELADA.NUNCA VÍ UM FUTEBOL TÃO CAPITALISTA QUANTO ESSE. HORRÍVEL.
http://thebigdogtales.blogspot.com/
Seus textos são deliciosos, pelo menos os três que eu li. É incrível a maneira como você consegue, a partir de temas como a atuação da Seleção, o Dia do Homem ou o 14 juillet, com um toque de ironia e bom humor tecer palavras que se transformam em verdadeiras obras de arte.
Não vou comentar o vexame da seleção, mas ao ler seu texto, foi inevitável não pensar na derrota dos EUA para o Japão no futebol feminino, a qual - devo confesar - me deixou muito contente. Apesar da beleza e imponência das Americanas - principalmente da goleira Solo - as pequenas japonesas conseguiram, assim como a tartaruga venceu a lebre.
Bomm, divagações a parte, gostaria de agradecer suas palavras tocantes no meu blog. Muito obrigada pela visita e pelo carinho.
A bientôt, j´éspere!
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