Numa de suas crônicas fenomenais, Martha (sempre que eu aqui disser Martha, é a Medeiros) observa que a gente conhece a índole das pessoas através do banheiro de serviço. O índice Nasdaq em questão é o papel higiênico da empregada. Igualzinho ao do resto da família? bom sinal: gente evoluída, que não acredita na divisão entre casa grande e senzala. Se, ao contrário, é daqueles mequetrefes – que dão duplo expediente como lixa de unha –, bola fora dos donos da casa. Nessas pequenezas é que nos jogamos inteiros. As partes gritam o todo.
Lembrei-me da crônica de Martha enquanto assistia a um episódio de Extreme makeover: home edition, exibido pelo Discovery Home & Health (canal 55 da Net). Para quem não sabe, o programa pega famílias com histórias de vida sofridérrimas e, conforme diz o título, promove uma reforma extrema em sua residência, geralmente erguendo uma nova da estaca zero. Bota nova nisso. Fazendo jus ao nome, a atração assume o papel de fada-madrinha até a medula: arranja bolsas de faculdade, doa carros esplendorosos, constrói dormitórios e quintais recém-chegados do Magic Kingdom. Cada lobby é um parque, cada corredor é um flash. Requintes coloridos de pirar criança.
A família desse episódio (de sobrenome Wilson) morava em um trailer. Móveis literalmente colados com durex. Nada vezes nada: “só” educação e amor. Uma avó, cinco netos. Vem o programa, levanta um palacete, faz quarto do Homem-Aranha, faz quarto de basquete, coloca “teia” de escalar na parede, traz autógrafo do Tobey Maguire, transforma a área numa Shangri-Lá de balanços e bicicletas. Os pequenos, obviamente, deslumbrados. Mas o que mais pareceu encantá-los dormia na prateleira da sala de estudos. “Temos um dicionário só para nós!”, exclamou um dos pixotinhos com felicidade comovente. “Tenho livros no meu quarto!!”, sorriu o mais velho assim mesmo: em negrito, itálico e duas exclamações. Livros doados pela vizinhança, nem de primeira mão. Porém, naquele grupo de pessoinhas que acabara de realizar o sonho da casa própria, quarto próprio, TV própria, banheiro próprio, Disney própria, a descoberta da biblioteca própria trouxe o Natal.
Desnecessário espiar o banheiro de empregada no lar dos Wilson. O fator dicionário adverte: alto índice de desenvolvimento humano. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, mas não há que duvidar: o que quer que os meninos Wilson venham a ser depois das bolsas na faculdade, será bem sido. Mission accomplished.
6 comentários:
Nossa... um acontecimento raro nos dias de hoje, onde é difícil fazer uma criança trocar a tv pelo livro.
Adorei mesmo!
Abração, mano!
F.
eu não entendi muito a tematica do texto, sou meio devagar.
Mas não vejo um fato positivo ter livros no quarto. aliais, eu nao gosto de livros
http://pedropyratero.blogspot.com/
Ler um livro é mais que um simples prazer, afinal toda a tua vida é baseada no livro da vida.
Estou te seguindo.
http://www.paradigmasdaspalavras.blogspot.com/
Olá! Muito obrigada pela visita!
Que bom que gostou das minhas poesias!
E claro, toda sugestão é bem vinda! Realmente alguns poemas meus são quase testos inteiros, mas é q eu vou muito pela inspiração rsrs
O poema q eu postei hj, meu amigo me deu um tema, e eu fiz apartir dele. As vezes eu consigo trabalhar as palavras, mas as vezes sai como eu estou mesmo. E, com certeza, sempre podemos melhorar mais, né?
Muito obrigada mesmo! =)
Um grande abraço!
http://kamila-poesia.blogspot.com/
Ah, o post está ótimo!
tão bonitinha a emoção do dicionário... rs
Abraço!
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