segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Abre los ojos

Tive ontem um sonho agoniante, espécie de Jogos mortais light. Eu, Fábio e mais umas boas dezenas de pessoas fomos capturados por um vilão (parecidíssimo com Megamente) e trancafiados em amplo esconderijo, onde ele nos obrigava a engolir uma série de comprimidos duvidosos. Tentávamos passar despercebidos, lembro-me de ter jogado duas ou três cápsulas fora, pois aqueles que as tomavam não eram mais vistos. Até que me convocaram a mandar para dentro os tais remédios na frente dos que estavam “no controle”. Prometi ao Fábio que voltaria para contar o que iria acontecer. Não pude. Quando tomei os comprimidos e abri os olhos (no sonho), o galpão estava completamente vazio, como se eu – alicemente – tivesse retornado à minha dimensão original. Não houve voz que falasse, mas adivinhei com força a moral da história: alívio grandão de estar viva. Eu abriria os olhos (no quarto) pouco depois, ainda com a sensação fresquinha de segunda chance. Acordar segura teve gosto de pão quente.

Cair em armadilhas de Jigsaws é, felizmente, fantasia remota. Está certo que acontecem horrores: sequestros, invasões de atiradores tresloucados, cárceres privados que escandalizam o mundo. São, porém, exageros proporcionalmente raros. O que vemos em cada dobrar de rua são pequenos renascimentos. Lembro-me sempre de um filme italiano, O quarto do filho. Em determinada cena, todos os personagens da família principal correm perigos cotidianos: na moto, no trânsito, na calçada, no trabalho, qualquer um deles pode ser vencido pelo acaso, sem ligar a mínima. O único derrotado é o filho do título, Andrea, que morre num acidente de mar. Embora não recorde os detalhes da cena, guardei nítida a impressão de “fio de navalha”. Eis que somos todos ali, na corda bamba: atravessamos a rua olhando para a direção oposta e uma buzina nos economiza o restante de vida; perdemos o ônibus assaltado no quarteirão seguinte; passamos ao lado do bueiro quinze minutos antes (ou depois) da explosão; a árvore em frente tomba meia hora após sua chegada; o bloco da faculdade despenca na antevéspera das aulas. Nossa “segurança” é mera vaidade de vermes sortudos.

Esperar que um psicopata me ate numa geringonça cujo funcionamento será explicado pelo boneco de bicicletinha? Aguardar que outro pesadelo me desperte a gratidão do alívio? Não, obrigada. Valorizo os dias, celebro aniversários, toda vez que o metrô chega sem problemas, o avião pousa sem turbulências, o carro estaciona sem batidas, a visita ao banco acaba sem surpresas, a descida de escada termina sem escorregões, a volta do trabalho é consumada por uma chave na porta, sã e salva. Como diria Jack Dowson a bordo do Titanic, “each day counts”. Cada chegada é vitória. Cada minuto é bônus. Cada semana é lucro. Os que não creem senão em sua própria infinitude de Hércules, em seu próprio modelito de onipotência, abram los ojos. Ali, agora, hoje.

Vai que.

4 comentários:

Entre calcinhas ;) disse...

Nossa! Gostei do texto!

Patricia Busato disse...

oiii, gostei D+!!!
se você roia as unhas mas parou: http://patty-missgirlunhas-patty.blogspot.com/

estou fazendo uma pesquisa, se você parou de roer as unhas, acesse o blog e conte como conseguiu, espero seu comentário!
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e me segue por favor, eu jah estou te seguindo! BJS

Urbano disse...

Muito bom! humor sutil. Mas te falo que curto ter pesadelo, quase não tenho, mas acordar de um é uma experiência maneira!

AssiZ de Andrade disse...

Pow, nem me fala em sonhos estranhos, pra mim virou rotina.

Eu começo a ficar preocupada é quando tenho um sonho bom ou pelo menos sensato.

Ótimo texto, exprimiu mto bem as sensações causadas por um pesadelo hahauhauah

Vou nessa,
Abraços!

http://redutonegativo.blogspot.com/
www.twitter.com/rejane_marques