quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Corrida maluca

A exposição foi organizada na França, rodou por vários países e agora está acampada em São Paulo; fala sobre as ruas e esquinas das metrópoles globais, propõe estratégias para atenuar o caos. Em reportagem sobre o evento, no Bom dia, Brasil de hoje, Fábio Turci lançou um dito lapidar a respeito do corre-corre de nossos espaços públicos: “Na rua, pratica-se a pressa. E a pressa faz inimigos”.

Estabilizamos moeda, economia e vida; compramos carro, trocamos carro. Estendemos a linha do metrô, ampliamos as de ônibus. Mais vans, mais táxis, mais mototáxis, mais motos. Para que um sempre diversificante transporte? Para aprimorarmos a cultura do atraso, é óbvio. Ainda que não estejamos atrasados. Podemos chegar com 16 minutos de antecedência, mas entramos no trem massacrando e xingando a multidão que quer, de propósito, nos impedir de chegar com 26. Há 32 vagas disponíveis, mas autoazedamos a manhã resmungando contra o motorista que tirou o dia para nos infernizar, estacionando bem no espacinho preferido. Se não tivéssemos ficado 17,8 segundos retidos pela senhorinha que andava de bengala à frente, atravessaríamos no sinal das 8h41 e pegaríamos o metrô das 8h44. Se não tivéssemos esperado 2,13 minutos para que o cadeirante embarcasse no ônibus, evitaríamos a maré de sinal vermelho na avenida. Pronto, lá vamos nós: esbaforidos, misóginos, intolerantes, nazistas de ocasião, skinheads momentâneos, feras instantâneas, nosso lado B perigosamente aflorado porque nos malocaram 5 minutos no percurso, esses animais. Nós todos, monstros em pó, de preparo imediato. Basta adicionar meio mililitro de imprevisto e rendemos cinco jarras de fel, para beber de canudinho.

A ferida exposta, a rivalidade potencial, ultrapassa a pista, o trilho, a calçada. Demore para obter resposta do caixa eletrônico, lute na fila do mercado para encontrar aqueles 10 centavos na bolsa, pague com 47 moedinhas a passagem do veículo que preferir: 2.406 suspiros virão atrás de você, ensurdecedores. Muxoxos impacientes. Palavrões eventuais. A campanha surda da torcida adversária, dos outros, dos logrados, dos inimigos. Se temos uma lasquinha de sensibilidade a mais que uma ameba, saímos à rua (ou nem saímos: não se esqueça da hora de embarcar as compras no elevador lotado) rezando para não tropeçar, não enguiçar, não enganchar, não travar, não soltar, não reiniciar. Rezando para realizar o previsto sem levar buzinada nem ganhar abacaxi.

A pressa é inimiga da digestão. Da canção, da função, da união, da opinião. Quanto mais minutos “perdemos” descobrindo o outro como gente, maior a chance de, no fim do dia, sentirmos que a maratona de 24 horas valeu medalha, medalha, medalha.

9 comentários:

Karina Alme Legnani disse...

Concordo plenamente!

Anônimo disse...

adorei o blog
http://pstrawberrymake.blogspot.com/

paradigmas universal disse...

Sim o caos pode ser ordenado com calma.

Ombudsman Poético disse...

obrigada pela crítica.

vou prestar mais atenção nisso.

gosto de receber comentários de quem entende de poesia.

será sempre bem-vinda.

abraço.

Blog Cupcake disse...

Amei o seu blog! Parabens

Blog da Dani disse...

adoreiiii
medalha, medalha, medalha
=D
rsrs

Anônimo disse...

Oiieee vlw por comentar no meu blog e que bom que gostou do relogioo *-*
hm é só ir em ''seguir esse site '' acho que da pra me seguir :)
bjsss até mais e to seguindo :)

Wanderly Frota disse...

É verdade!
Adorei o texto ;)

http://distractingpages.blogspot.com/

Hoje, o blog comemora 1 aninho de vida! o/

Fábio Alves disse...

Qto mais corremos, menos tempo temos! Contraditório, não?!?