Muita gente conhece a parábola bíblica do filho pródigo: o guri mais novo pede sua parte na herança, sai de casa, torra a bolada com mulheres, festas e “amigos” que precisam de aspas. Ferradão e sozinho, começa a trabalhar cuidando de porcos e chega a invejar a comida dos bichos. Aí se dá conta da burrada; resolve voltar para casa, oferecer-se ao menos como um dos empregados da família. O pai não se faz de rogado: manda trazer roupa e sapato novo pro moleque, anel, vinho, novilho gordo para dar festança. Happy-end sem DRs.
Pois fizeram para a parábola uma musiquinha que é um primor de síntese – reúne o tudão do enredo em três estrofes. A mais bonita começa assim: “Nem deixaste-me falar da ingratidão,/ morreu no abraço o mal que eu fiz”. Este último verso, uma pancada, não consigo cantá-lo sem molhar os olhos. Como é que cabe tanto conteúdo em tão pouca forma. Oito palavras que descrevem o indescritível por todos os Aurélios do continente: abraço e perdão. O que acaba em um e onde o outro começa.
Adoro principalmente o início do verso. Morreu. Não que eu seja fã do verbo, bem muitíssimo ao contrário; por isso mesmo, estimo vê-lo ligado ao “mal que eu fiz”. O mal que eu fiz não foi empurrado, não foi varrido, não foi espanado, não foi arquivado para seguintes consultas, não foi reservado para posterior cozimento, não foi escondido na gaveta para inesperadas redescobertas. Morreu. Não fazemos a festa agora e vamos discuti-lo mais tarde, não aproveitamos o bom momento e o estocamos para o mau, não sorrimos na frente dos amigos e o retomamos no enfim-sós. Morreu. Não morreu que nem zumbi ou múmia de cinema, morreu direito. Morreu sem se questionar morto. Morreu sem ter dúvida. Morreu de HD formatado. Morreu de flecha lançada. Morreu de papel carbonizado. Morreu de navio queimado. Não tem jeito, não tem volta, não tem sombra, morreu. E morreu no abraço.
Morreu no melhor lugar do mundo, segundo Martha: “Dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito”. Ali, naquele enlaçar de pai, há um modo próprio de dar à luz – o parto sem sangue, sem grito, sem mesmo frase. No abraço do pai, o filho pródigo fez aniversário. Deixou-se para trás, reinaugurou-se. Saiu da cerimônia de perdão com outra data de nascimento.
Ainda que não tenhamos acumulado tanta asneira a ser redimida, cada abraço recebido vira nosso pai. Todo abraço é pai de alguém. Milimétrica que seja a mudança, pessoa alguma sai dele como entrou. Por causa de um coração que se constata próximo, de um perfume que se percebe amado, de um apoio que se descobre presente, de um afeto que se conclui imprevisto, de um cumprimento que (não tínhamos notado!) é tão fundamental, mundos giram diferente. Cometas passam. Estrelas cadentes riscam. Às vezes o dia prossegue melhor. Às vezes melhora tanto que reinicia.
Hoje, meus filhos, não economizeis partos: abraçai. Crescei e multiplicai-vos – uns aos outros. E o tanto de ingratidão, de ressentimento, de pinimba, de dívida, de dúvida, de implicância, de discordância, de desacerto; e o mal que ele me fez, e o mal que eu fiz que estava aqui?
Morreu.
12 comentários:
Mto lindo, tao lindo q me tirou as palavras. Mas afinal, nem é preciso dizer mais nada isso aí já diz tudo, está completo!
Parabéns, ótimo texto. Mtos deveriam ler!
Beijos.. =)
Li o texto inteiro, emocionante, me tirou as palavras, mas seu texto está bem completo e me fez chorar, parabéns!
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parabéns, teu texto é muito bonito! :} http://apaixonadasporcosmeticos.blogspot.com/
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Gostaria que tivesse comentado algo que não fosse tão gramatical, mas obrigado pelo toque, foi um descuido meu. Mas ainda sim, por que tinha que ser apenas gramatical e nada mais? Beijão.
interessante o texto...gostei da leitura...
seu blog é maravilhoso o post é ótimo parabéns pelo blog
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Lindo texto! Parabéns! :]
Seu blog é ótimo!!
Esta parábola é bem bonita e passa duas mensagens: A do perdão e a de que quem errou não deve ser julgado como tal. Não sei ao certo se foi realmente um erro, pois o rapaz apenas sentiu necessidade de conhecer mais do mundo e se enroscou financeiramente. O bonito é que mostra como quase todos os pais realmente se importam com seus filhos. Este pai da parábola, nem ao menos tocou no assunto de erro, mas celebrou o retorno do filho.
Muito bom ;D
Ai, que lindo, Fernanda! Texto perfeito mesmo. Reflexivo, bem escrito e extremente interessante.
Parabéns.
Sayuri(orkut)
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Ótimo texto, vou ficar pensando aqui um pouco...
***
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Parabéns pelo texto bonito!
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