
Amigos não. Adolescentes, em especial. Entram no metrô em time e debandam. Se são quatro, usam quatro bancos livres – um refestelado em cada; pernas e braços derramados sobre o lugar vazio no banco, marcando território. Continuam, porém, conversando com entusiasmo idêntico, os interlocutores dispostos nos quatro polos da rosa dos ventos, partilhando o tema aos brados e gargalhadas com os senhores passageiros. Homem que é homem não tem essa de pertinho. Posiciona-se como se o outro fosse portador do ebola e (jeito macho de se comunicar) dialoga com fúria. Berra os ditos e as piadas. Talvez para amealhar testemunhas de que, em nenhum momento, falou-se de hidratação.
As pequenas carícias que mostram proximidade de meninas viram, entre meninos, pequenos espancamentos. Tem de haver toque? OK; então que seja direito. Para tirar sangue. Podem chegar a se abraçar, mas em geral com prejuízo de alguma costela. Sonoramente: é essencial que a performance afetiva seja sonora. Uma batida de mãos masculina atinge, calculo eu por alto, uns 87 decibéis, variando para mais conforme o grau de amizade. Se o tapa fizer um transeunte se abaixar achando que é tiro, pode crer que o elo é bastante para um querer segurar o outro e dar um beijo na careca do desgraçado. Homens entregam carinho dentro da (masculamente aceitável) embalagem de pugilato.
Acho cômico. Mas adoro quando os desencanados quebram a tradição e mostram evolução na espécie. Houve casos nos últimos BBBs: os varões da Casa se abraçando longamente, afagando a cabeça, chorando no ombro espadaúdo do outro confinado. Vão além e beijam o rosto ou testa do companheiro. Fico maravilhada. Esses são os cabras-macho sem frescura, que dão a cara pra bater – psicologicamente falando – diante de um Brasil todinho e de seu patriarcalismo ainda fofoqueiro e julgador. Se há algum tracinho de coisa boa no reality, é que anda ajudando a naturalizar o que deveria ter sido natural mais ou menos desde o início dos tempos: afeto exibido com o mesmo despudor com que se exibe agressão.
E sem tê-la (de penetra) na festa.
3 comentários:
Que crônica maravilhosa. É desse jeitinho mesmo que acontece. Dia desses eu estava em uma palestra com um colega de classe e ele se virou pra mim e falou: Jefferson, vamos ao banheiro? Levei um susto porque, isso em geral é coisa de mulher. Não vemos homens indo juntos ao banheiro, mas eu fui.
Amigas são sempre menininhas trocando diários numa festa do pijama.
auauauaa
achei 10
bem legal
http://zumbiliterario.blogspot.com/
Jackie
Adorei! Concordo plenamente!
Ainda bem q sou "menina".. rs
Bjuxx
http://un-necessary.blogspot.com/
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