
Pode-se – pelo menos em parte. Em tese. Um pouco.
Não temos o poder de evitar que alguém mergulhe em depressão após ter perdido a casa, o filho, o marido. Correto. Mas ainda somos capazes de colocar compressas, de estar presentes, de permanecer disponíveis, tão presentes e disponíveis que talvez alguma partezinha daquele interior enlutado recomece a se comover com a vida. Talvez reabra (sem saber) um arquivo supostamente deletado, reponha para rodar um programa que trabalhe em silêncio. É possível que, um belo dia, surja a caixa de diálogo questionando: continuar a viver? sim? não? – e o coração enlutado clique serenamente na primeira opção, pensando sem pensar que ainda há pretextos para uma segunda chance. Podemos ser os candidatos, os exemplos, a boca de urna, os distribuidores de santinho, os fazedores de campanha da segunda chance, ainda que não seguremos na mão o controle de mais nada.
Já ajuda se não formos os antipropagadores da segunda chance. Se não formos nós mesmos os esmagadores de alma. Se não convencermos uma criança, desde o primeiro soco ou desde o primeiro sim, que o mundo é um poço de frustrações ou uma redoma isenta delas. Se não persuadirmos os espíritos mais quebráveis a acreditarem em suas paranoias. Se não formos o Saara para quem precisa horrivelmente do locus amoenus. Se não formos risada de bruxa num universo já repleto de gritos. Se não bancarmos o Freddy Krueger para quem já está miserável de sonhos.
OK, suicídio é ato exasperado que, vez por outra, cresce em surdina até consumir-se e consumar-se. Acontece (embora costume haver migalhas de pão marcando o caminho, sinais que, distraidíssimos, não pescamos). Mas definitivamente não precisamos ser o comburente desse incêndio. Não precisamos ser um dos chutes que demolirão o andaime. Se não der ou não couber ser a lanterna que corre atrás e fica em cima, bom auxílio já presta quem fica firme, fixo, em constância reconfortante de farol. Sendo ao menos a luzinha no fim do luto.
6 comentários:
Uma simples palavra ou gesto pode ajudar alguém em depressaõ , pois ás vezes é disso que precisam ... adorei o tema do posr .
http://andyantunes.blogspot.com/
Suicídio é algo realmente triste pois como a sociedade abandona uma pessoa a ponto de tentar algo assim né?! Eu que busco amigos geralmente encontro pessoas querendo me levar para o buraco. E isso é muito fácil. Para tudo de errado há sempre alguém disposto a derrubar mas para ajudar alguém a manter-se bem, saudável, feliz é bem raro! Mas, eu sou um dos que sente felicidade em apoiar as pessoas independente de como ela se encontre afinal ao ajudar sinto-me muito feliz!
Parabéns pelo post! =)
Grande abraço!
http://neowellblog.wordpress.com/
Gostei muito do texto, bem escrito e o tema é bem interessante. Histórias de suicídios são sempre macabras, tristes e muitas vezes inaceitáveis. Só quem sofre da depressão, quem vive na fronteira dela, ou mesmo quem convive com alguém nesse estado é que conhece a angustia e o amargor desse sofrimento. Infelizmente nem todos sabem lidar com algumas situações que a vida impõe, ou não tem o lado emocional forte.
ótimo texto, abraço,
www.todososouvidos.blogspot.com
Retribuindo a visita. Convivo com alguem que tem depressão, é muito triste. Me segue também.
http://www.paradigmasdaspalavras.blogspot.com/
muito bom o texto!!
beijos
Gostei do texto. Suicidas são silenciosos como a hipertensão: Quando menos se espera, explodem!
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